terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Historiografia Brasileira - parte 2

Na postagem anterior sobre Historiografia Brasileira postei um resumo sobre a produção Historiográfica no Brasil Colônia e nos primeiros anos do Império. Agora vamos ler um pouco sobre o início do século XIX e seus principais nomes e acontecimentos.

Um nome muito presente neste contexto é Gilberto Freyre, que foi sociólogo nascido em Pernambuco e educado nos EUA. Ele opôs-se ao racismo em suas obras, considerava o mestiço um "degenerado" (no sentido positivo da palavra) e defendia a tese de que a mistura de raças imprimia a força e a riqueza cultural ao povo brasileiro. Essa visão positiva da miscigenação rendeu à Freyre críticas negativas acusando-o de "romantizar"(ou suavizar) os violentos conflitos entre portugueses e brasileiros. A formação do antropólogo incorporou em seu texto aspectos repletos de universo afetivo, da convivência e das relações sentimentais. Foi influenciado nesse sentido por seu mentor Franz Boas, com quem teve contato em sua morada no exterior;

Livro Casa Grande e Senzala, Gilberto FreyreFreyre aponta em sua obra o contato com a moral cristã realizada pelos jesuítas e como isto se tornou um dos maiores elementos destruidores da cultura nativa; Freyre também demonstra em suas obras o uso da interdisciplinariedade na construção historiográfica, ampliação do uso de documentos e fontes para coisas não tão comuns (como jornais e receitas culinárias), etc;

Outro nome importante na Historiografia Brasileira é o historiador Sérgio Buarque de Holanda. Nascido em São Paulo, sociólogo, formado em Direito e jornalista, também lecionou em universidades nacionais e internacionais. 

Foi um dos fundadores da Esquerda Democrática em 1946, do qual se originou o Partido Socialista e o Partido dos Trabalhadores; todo seu trabalho é fundamentado na teoria social Weberiana. Enquanto Weber pensa na "Ética do Trabalho presente nas religiões Protestantes" como algo determinante para a constituição dos EUA e seu sucesso diante do sistema capitalista, Sérgio Buarque de Holanda fala da ética do ócio, da influência da Antiguidade Clássica na vida do povo Ibérico e fez sérias críticas ao colonizador português, sua preguiça e desleixo em muitos momentos. Sérgio Buarque atribuía um suposto fracasso no sistema governamental brasileiro da época por conta do projeto mal elaborado português.

Raízes do Brasil, sua mais importante obra, é um marco nos estudos históricos e sociológicos brasileiros por indicar novos métodos analíticos e maneiras de compreender a evolução social no decorrer de sua história, se afastando das teorias de diferenciação entre raças; sua obra se aproxima de Ranque no que tange à busca pelo espírito do brasileiro e pela identidade nacional; também se aproxima de Weber pela tipologia dos tipos sociais que nos auxiliam a compreender a cultura e seu funcionamento cotidiano;

Diferentemente de Freyre, Sérgio Buarque quer superar a herança portuguesa, pensa que o brasileiro deva encarar em sua identidade o que há de pior para tentar melhorar e construir uma identidade nacional; criticou o Estado brasileiro no qual predomina o modelo de família patriarcal, sem a constituição de uma organização burocrática eficiente. O traço que define esse "neoportuguês" serial a noção de "homem cordial" oriundo de Portugal. Sérgio Buarque critica o paternalismo como sinônimo de "apadrinhamento", "jeitinho brasileiro".

Caio Prado Júnior foi o intelectual que mais refletiu sobre o movimento operário marxista; questionou os motivos de não ter existido no Brasil uma revolução comunista, ou até mesmo uma revolução burguesa; criticava o imperialismo internacional, foi um pensador metódico e acadêmico.

Ele construiu uma história econômica com inspiração marxista questionando quais os conceitos apropriados deveriam ser criados para analisar o processo histórico brasileiro; também problematizou a "demora" da passagem do tempo pela ausência de rupturas significativas com o passado; definiu na história do Brasil 3 fases, começando pelo povoamento; Caio Prado lançou críticas ao comportamento moral dos portugueses, que usavam das nativas e afro-brasileiras para sexo casual e defende que no Brasil não houve uma transição do feudalismo para o capitalismo, eis que a situação colonial já estava ligada à demanda mercantil;

A Influência dos Annales na Historiografia Brasileira: A Escola des Annales desenvolveu e amplificou as possibilidades oferecidas para o campo das pesquisas históricas ao romper com a tradicional compartimentação das Ciências Sociais privilegiando os métodos pluridisciplinares, sem no entanto cair em aventuras puramente transdisciplinares. A história propõe que os documentos são vestígios nas mãos do historiador, e que de fato, pode-se perceber a existência de inúmeras histórias e inúmeras temporalidades ao analisar o mesmo presente cronológico.

Antes da influência da Escola dos Annales, a história no Brasil era contada com finalidade de justificar ações do Estado. Com o surgimento de novos atores sociais no início do século XX foi necessária a busca por uma nova maneira de fazer História para captação da realidade da sociedade brasileira.

Ao longo das décadas a escola dos Annales faz com que as fontes e os documentos históricos não importem mais somente pelo que dizem, mas também por aquilo que não dizem. A produção historiográfica brasileira foi profundamente marcada, a partir dos anos 1960, por uma espécie de dialética, de interação e de oposição entre as vertentes da tradição e as vertentes da inovação. Essa dialética está presente nas tensões próprias da escrita da historiografia brasileira. Do lado da vertente da renovação estavam as contribuições da Escola dos Annales e a influência da perspectiva teórica marxista, que se combinaram, se acoplaram e ganharam espaço na produção historiográfica nacional. A vertente tradicional, porém continua sendo muito influente ainda, pois estava solidamente implantada nos terrenos institucionais e acadêmicos.

A chamada Nova História, que popularizou-se nos anos 1960 e 70, tinha como fundamento duas inspirações básicas, a escola dos Annales e o Marxismo. Daí a partir da década de 80, as articulações da historiografia brasileira vão se tornando mais complexas por meio de elaborações conceituais advindas dessas três tendências ou perspectivas historiográficas.

A produção historiográfica brasileira foi profundamente marcada, a partir dos anos 1960, por uma dialética, de interação e de oposição entre as vertentes da tradição e as vertentes da inovação. Essa dialética está presente nas tensões próprias da escrita da historiografia brasileira. A historiografia contemporânea sedimentou a distinção entre o fazer do historiador e o produto de tal fazer: o discurso histórico.

O materialismo histórico foi a metodologia básica que se destaca nas análises marxistas; esse conceito possibilitou a entrada da história no campo da ciência de forma concreta. O conceito de história oferecido pela perspectiva marxista propõe uma teoria geral de funcionamento das sociedades em seus desdobramentos históricos. Esse método de análise marxista do processo histórico tem como dinâmica a dialética.

A produção historiográfica durante o século XX conheceu uma grande efervescência teórica e metodológica, que suscitou discussão sobre a narrativa histórica, suas estratégias discursivas e a legitimidade científica da produção do conhecimento histórico. A abertura das perspectivas teóricas e temáticas ligadas ao campo da História Social e da Nova História Cultural acabou por estimular reflexões e trabalhos historiográficos em todo o mundo e também no Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não deixe comentário anônimo, você pode usar seu link de perfil no Facebook ou Instagram para usar seu nome :)