quarta-feira, 29 de março de 2017

Falta interpretação, mas também falta BOA VONTADE

Lara Brenner certa vez disse que "Falta amor no mundo, mas também falta interpretação de texto". Eu vou além: Falta amor, interpretação de texto e também BOA VONTADE. Existem pessoas que já têm uma opinião formada tão fortemente que, por mais que finjam ouvir outros aspectos, acabam batendo o pé e indo contra toda a lógica, estudos, matemática, etc.

Logo que eu me casei uma amiga me enviou dois livros em pdf sobre comportamento humano, sobre linguagem corporal e papéis de gênero bem específicos. Ela é cristã e acredita fielmente nisto. Agradeci, li os dois livros e tentei tirar o que havia de bom pra mim.

Sobre a submissão feminina no casamento

Depois disso ainda ganhei mais dois livros, "Casamento Blindado" e "120 minutos pra blindar seu casamento", dois livros escritos pela filha e genro do Bispo Edir Macedo. Achei que seriam livros repletos de religiosidade e muito parciais, mas até que eram tranquilos. 99% dos ensinamentos são básicos e pode ser aplicados em qualquer tipo de relacionamento, cristão ou não, homo ou hetero, monogâmico ou polígamo, etc. Eu indico os livros pra quem quiser, até acho muito válida a maioria das coisas indicadas... mas... existe duas coisas importantíssimas chamadas INTERPRETAÇÃO e BOA VONTADE.

Em todos os livros citados há a indicação da submissão feminina como algo natural, sagrado e positivo, afinal, são livros cristãos. Toda vez que eu me deparo com alguém da igreja defendendo a submissão feminina, noto que o fazem com intuito de nos convencer de algo. Eu não sou contra nem a favor disto. Eu entendo o que muitas amigas da igreja pensam a respeito. Na verdade, eu tenho boa vontade pra entender.

As mulheres de hoje em dia tem sentimentos feministas, por mais que não se considerem. Elas não querem sentir que um homem as domina e que não tem voz pra nada. Por conta disto, criou-se a ideia da submissão bíblica como algo bonito e romantizado. Qualquer página conservadora e cristã descreve a submissão feminina como algo em que há liberdade de escolha pra mulher (o que é totalmente contraditório). Nesse sentido, entendo e tenho boa vontade quando esse assunto é mencionado nas rodas cristãs.

Só queria que essas mesmas pessoas tivessem a mesma boa vontade que eu. Eu já tinha até feito um vídeo/post dizendo que compreendo o conceito de submissão bíblico de acordo com quem o defende e acredito que seja positivo em certas situações. Não porque o homem merece, mas porque todo ser humano precisa aprender a dar o braço a torcer certas vezes (estou falando ser humano, não somente "mulher"). Logo, não uso um conceito abstrato (a submissão) pra difamar algo que não me identifico (a religião).

Por isso peço a vocês amigos, principalmente as mulheres, que não se identificam com o feminismo ou que usam falácias pra difamar o feminismo: tenham a mesma boa vontade que eu

quarta-feira, 22 de março de 2017

Terceirização irrestrita do trabalho no Brasil

Em 2015 eu trabalhei num escritório em que pegava 3 ônibus (2 entupidos) pra chegar no pior lugar do RJ: Barra da Tijuca.

Acordava as 5h da manhã, fazia essa via crucis e muitas vezes corria (literalmente) pra chegar antes das 8:30h. Enquanto isso, outras funcionárias iam de carro, se maquiavam e se embelezavam porque moravam por ali mesmo.

Como funciona a terceirização

Eu ouvia piadinhas todos os dias sobre minha aparência, meu corpo, meu cabelo e minhas roupas. Tudo que eu fazia era olhado com um ar de reprovação misturado com pena e deboche. Não sou um floquinho de neve especial: isso também acontecia com outros funcionários.

A princípio eu sentia que era minha culpa, que estava neurótica, porque tudo era sutil, e eu achei que era coisa de minha cabeça. Outra funcionária que morava mais distante me enchia os ouvidos com discursos meritocratas pra me fazer acreditar ser normal ter curso superior e ganhar a miséria que eu ganhava. Ela queria deixar claro que bastava eu me esforçar, um dia eu chegaria onde ela chegou.

Eu chorava todas as noites ao chegar em casa porque sabia que aquilo ali não era meu lugar. Eu não podia respirar de um jeito diferente sem que virasse motivo pra deboche. Eu pensava em meios pra melhorar meu currículo, fazer pós, cursos, qualquer coisa que me fizesse crescer na empresa, e em troca tomei um belo pé na bunda. Eu fazia tudo que os chefes pediam, até resolver problemas pessoais, inclusive.

Mas no final eu sempre soube: não nasci para aquele lugar, não nasci para aquelas pessoas. Elas passavam o dia ofendendo minorias, falando do quanto o PT estragou o país enquanto planejavam publicamente suas viagens a Paris. Nunca vi reclamar de crise e gastar 300 reais num almoço. Agora vocês sabem porque eu sou DE ESQUERDA. Não existe espaço para pessoas como eu no capitalismo.

Sei que não devemos usar experiências pessoais como militância, mas como viver numa sociedade que diz valorizar meritocracia e não reconhece seu esforço? No final das contas você sempre acaba perdendo sua vaga para alguém mais bonito, mais jovem, com mais recursos e que esteja disposto a fazer o mesmo por menos. Assim age o capital, assim é o "livre" mercado.

Por que estou postando isto hoje? Porque é pra esse destino que caminha o Brasil. Enquanto essa lei permitir terceirização de qualquer tipo de serviço, nós trabalhadores nunca teremos segurança de nada. Sempre perderemos nossas vagas para o "sobrinho" do chefe.

domingo, 5 de março de 2017

Quem foi Sidarta Gautama, o Buda?

Sidarta Gautama, o Buda (o iluminado), viveu na Índia um período em que mitologia e religião de nosso mundo sofriam questionamentos (563 a.C. - 483 a.C). Na Grécia, pensadores como Pitágoras (do Teorema) investigavam o cosmos utilizando a razão. Na China, Confúcio desvinculava a ética da religião. E o bramanismo era a religião dominante no subcontinente Indiano no séc. VI a.C. Mesmo assim viveu-se uma era de valorização do raciocínio em relação à crença pura e simplesmente.

O que é Buda?

Sidarta Gautama desafiou dogmas religiosos apenas empregando seu raciocínio filosófico. Ele acreditava que apenas quatro verdades regiam nosso mundo: 

  • A de que o sofrimento é parte inerente de nossa existência desde que nascemos até a morte;
  • A origem do sofrimento? Nossos desejos. Acreditava que os prazeres sensuais + o apego a bens mundanos causam nossa dor;
  • O fim do sofrimento: Acreditava que o único meio de acabar com o sofrimento seria abrir mão desses desejos;
  • A superação do ego: Este é o único meio de se alcançar a felicidade

Seus pensamentos fazem sentido até hoje eis que ao adquirirmos mais experiência de vida notamos que a obtenção de coisas e de prazeres sensuais em nada nos fará feliz se não estivermos bem consigo mesmo. A felicidade vem de dentro pra fora, não de fora pra dentro.

Sidarta não foi um messias ou profeta, tanto que o budismo muitas vezes é mais visto como corrente filosófica do que religião. Ele chegou a suas ideias por meio de reflexão e seu principal objetivo eram questões de objetivos de vida, como conceitos de "felicidade", "ética", "certo e errado", etc.

No começo de sua vida, usufruiu de luxo e riquezas, bem como "prazeres sensuais". Contudo entendeu que isto não lhe traria a verdadeira felicidade. Desta forma, também entendia que a total abstinência e austeridade não eram suficientemente satisfatórias. Entendia como correto um "caminho do meio" (o que nós entendemos nos dias de hoje como meio termo). Este sim seria a verdadeira felicidade (ou iluminação).

No raciocínio de Buda, o não-apego era o único meio de evitar o sofrimento, já que o egoísmo é uma tendência humana na busca da satisfação. Desta forma não basta eliminar o que desejamos, devemos superar a ideia do "eu". Em outras palavras, esquecermos de nós mesmos. E como isto é feito?

Buda argumentava que nada no mundo origina a si mesmo pois tudo é resultado de uma ação prévia. Nós não somos floquinhos de neve especiais, somos fruto da união de nossos pais. Eles também não são, são fruto da união de nossos avós. E assim sucessivamente. O mundo do ego é ilusório e cada um de nós somos apenas uma parte desse processo eterno e transitório. Não há "eu" que não seja parte de um todo maior. O sofrimento resulta de um fracasso em reconhecer isso.

Segundo Buda, o estado de não apego quando atingido em sua totalidade resulta no que chamamos de Nirvana. No bramanismo, Nirvana era entendido como tornar-se uno com Deus, mas Buda não apropriava-se de ideiais religiosos, entendendo o Nirvana como um estado que ultrapassava os limites sensoriais, eterno e imutável. Depois de sua "iluminação", Buda passou anos viajando pela Índia, pregando e ensinando, ganhando assim um considerável número de seguidores.

O Budismo estabeleceu-se como importante religião e filosofia de vida, seus seguidores transmitiam seus ensinamentos oralmente até o séc. I d.C., quando foram escritos pela primeira vez. Popularizou-se na China, rivalizando com o confucionismo e o taoísmo em número de adeptos. Já no ocidente, o budismo não teve tanta influência, cenário que foi mudando bem lentamente ao longo do tempo., pois apenas no séc. XX o budismo exerceu influência direta na cultura ocidental, conquistando adeptos inclusive nas Américas.

Buda foi um importante filósofo do mundo antigo e a partir de agora trarei postagens falando sobre grandes nomes dentro da Filosofia. Espero que gostem 🙂

Fonte: O Livro da Filosofia, Globo Livros