Dia destes comecei a assistir a série "The Handmaid's Tale" somente pelo incentivo das redes sociais. Quando, no auge dos delírios da bancada evangélica de nosso país pensou-se em criminalizar a prática do aborto (inclusive em casos de estupro), esta série foi muito exposta como exemplo de caminho que estávamos seguindo. Àquela velha sensação de volta da "Idade Média" em pleno 2018...
De fato é uma série que se você é mulher (e tem consciência social) vai sentir um maior impacto, talvez mexa com seu psicológico e te faça refletir. Mas quando compartilhei um ponto interessante sobre The Handmaid's Tale no meu Facebook, senti um interesse por parte da militância ateísta, graças ao grande enredo religioso contido nessa estória.
The Handmaid's Tale é uma série inspirada no livro da autora canadense Margaret Atwood, de 1985, onde não há o país Estados Unidos como nação que conhecemos pois trata-se de uma distopia em que mulheres no geral não podem mais ter filhos, sendo algumas poucas capazes de engravidar. Estas moças que podem ter filhos são controladas pelo governo e forçadas a engravidar de chefes de Estados e outros homens influentes para dar continuidade à espécie: elas são as chamadas Aias e têm de renunciar a si mesmas (inclusive de seus nomes de batismo) para servir à estes homens.
Além de demonstrar a tortura que estas mulheres passam coercitivamente, a série mostra como a religião é capaz de influenciar nesse esquema horroroso baseado na premissa "Crescei e multiplicai-vos". Muitas vezes (se não todas) as ações que tais Aias são obrigadas a se submeter são justificadas pela Bíblia Cristã, escondendo o real intuito, impondo um sentido "sagrado" como já conhecemos e sabemos que não existe.
Quem nunca ouviu conselhos baseados na Bíblia Cristã? O grande problema não é ser uma bíblia, ou ser cristã, mas sim ser um livro de condutas escrito a muito tempo atrás cujo conteúdo nem sempre é apropriado aos dias de hoje. Quando alguém usa de seus dogmas para fazer o bem, ser generoso ou perpetuar um bom costume, não há problema algum. De fato, a Bíblia pode até ser usada como fator histórico. O problema é que as pessoas veem na Bíblia um livro sagrado, intocável e inquestionável, sendo ele escrito para atender interesses políticos da época somente e tal fato é ignorado no calor da emoção dos aficionados pelas suas religiões.
Enfim, The Handmaid's Tale é uma série ótima pra demonstrar a cruel face do Cristianismo e talvez seja até um tapa na cara daqueles que insistem em apontar condutas radicais nas religiões do Oriente Médio, mas romantizam algumas de suas condutas, como o casamento monogâmico com ênfase no prazer do homem, a proibição ao aborto seguro e ao casamento homoafetivo. Ainda estou na primeira temporada, aguardando ansiosamente pela trama pois o fator entretenimento também é bem satisfatório.
A série não tem tanta ação como eu gostaria, mas ainda sim te prende a atenção e vale a pena dar uma conferida 😉