Quando a Rede Globo anunciou a nova novela das 19h "Deus Salve o Rei", em estilo medieval, fiquei muito surpresa pois não me recordava de nenhuma novela global neste estilo. Nas redes sociais ainda questionou-se sobre a antiga "Que rei sou Eu", de 1989, mas esta última era ambientada no início da Idade Moderna, também conhecida como a época Iluminista (ou Renascença). Acredito que a Globo tenha criado esta novela para pegar carona do sucesso de Game of Thrones mas não sei ao certo, é apenas uma hipótese.
A Idade Média fascina a muitos graças a industria cinematográfica que a expõe como uma era de batalhas, dominações, castelos e dragões, mas a realidade é um pouco diferente. É uma época conhecida historicamente com a ideia de retrocesso, por muitas vezes chamada de "Idade das Trevas", mas isto também não é verdade: O nome "Idade Média" foi um conceito criado por iluministas no início da Idade Moderna com finalidade de desmerecer as conquistas da época e resgatar os valores clássicos da Antiguidade.
Devemos entender que a Idade Média é um período que começou com a Queda do Império Romano e com o advento das Invasões Germânicas (vulgarmente chamada de "Invasões Bárbaras"), sendo tais acontecimentos progressivos com o tempo, de forma que não ocorreram do dia pra noite.
Roma foi uma fortaleza imperialista difusora de sua cultura e dominadora de terras. Quando outros povos não-romanos começaram a se rebelar e atacar o Império, a instauração de novas crenças e estilos de vida marcaram o que chamamos de Idade Média. Visigodos, Saxões, Francos e Suevos foram apenas um desses povos conhecidos como sujos, mal educados e sem instrução, sendo, na realidade, apenas povos que não consumiam da cultura greco-romana.
Quais são as principais características deste período:
- Descentralização do Poder: Se na Antiguidade a centralização do poder político era bem definida nas mãos de reis, faraós, imperadores, na Idade Média ocorre o contrário: Não há muito bem especificado a figura central de poder nas vilas e outros locais; o senhor feudal só aparece certo tempo depois como proprietário de um pedaço de terra, infinitamente menor, se comparado aos domínios antigos, caracterizando essa descentralização. Um dos maiores erros apontados nesta novela é justamente usarem da figura de reis, mais relevantes no chamando Antigo Regime: bola fora da Globo;
- Ruralização e Colonato: As Batalhas decorrentes da Queda do Império Romano fizeram as pessoas migrarem para o campo novamente, para fugir da escassez de comida e das mazelas de possíveis novas batalhas. Voltou-se a plantar para sobreviver configurando a ruralização da época sendo a figura do camponês muito forte na Idade Média. Desse modo, o Colonato foi o regime de trabalho em que estes camponeses exploravam a terra para seu próprio consumo, mas também cediam a maior parte do produzido ao proprietário;
- Cristianismo: A religião católica apostólica romana cresce na Idade Média como poderio governamental e controladora de atividades administrativas mas também do cotidiano das pessoas. Alguns livros e filmes como "O Nome da Rosa", por exemplo, mostram exatamente como funcionava o tipo de controle exercido pela Igreja na época, concentrando o saber a alcance de poucos;
- Romanismo: Usar da cultura romana como parâmetro na criação de leis e imposição cultural foi comum na Idade Média e a Igreja Católica foi a principal responsável por isto. No entanto é importante observarmos que na História de todos os povos quase sempre há troca cultural e absorvição de hábitos de outros povos. Isso pode ser notado na mescla de comemorações pagãs que hoje são vistas como genuinamente católicas, por exemplo, nos mostrando que houve muita influência entre os romanos e os chamados "bárbaros" (ou barbaróis);
Sendo assim, na industria do entretenimento e no jornalismo muitas vezes são criados programas para prender a atenção dos expectadores, negligenciando a transmissão do conhecimento, por isto acho normal que novelas e filmes não sejam 100% fiéis à Historiografia. Contudo, deixo esta postagem pra dividir o conhecimento e quem achar relevante, sinta-se a vontade pra compartilhar. Beijos, Thainá 🙂
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