Quando um ser humano nasce trás em seu corpo diversas características que vai possuir: hormônios, cromossomos, dois braços, duas pernas, visão, audição, etc. Salvo raríssimas exceções, a maioria dos seres humanos são assim. A biologia humana é muito semelhante quando levamos em consideração aspectos de saúde: ou seja, para que um ser humano seja considerado saudável ele tem que ter em si o mínimo possível para uma vida plena sem dificuldades motoras.
Ainda sim, estes seres humanos possuem algumas poucas características que os diferem, como por exemplo, uns tem capacidade de engravidar, outros não. Uns tem capacidade de menstruar, outros não. Uns possuem uma taxa de testosterona maior, outros não (veja que estou falando de forma empírica, apenas de ciência).
Diante dessas características sociedades convencionaram que estes seres humanos deveriam ser classificados em gêneros. Veja bem, diante de características pré-existentes no corpo humano, a SOCIEDADE convencionou que quem tem determinada característica deve ser tratado de um jeito, e quem tem determinada característica deve ser tratado de outro jeito. E que sociedade é essa? Várias. Mas nós, aqui no Brasil, estamos acostumados com a sociedade patriarcal ocidental, com raízes na tradição judaico-cristã.
Vamos levar em conta que tal sociedade é apenas mais uma das muitas que existem ou já existiram no mundo. Embora de grande importância e influência, não se pode ignorar que há outros povos e outras sociedades que encaram o assunto "gênero" de outra maneira. É importante destacar, por exemplo, que comunidades indígenas não usam o critério "corpo" pra considerar um gênero. Outras, nem gênero tem. Tanto que ao vermos os membros de uma determinada sociedade, sendo indígena ou não, podemos até ter dificuldade de enxergar o gênero dessas pessoas (é benino ou benina)... E por que isso ocorre?
Porque na sociedade em que vivemos atualmente, no Brasil, os estereótipos de gênero são reforçados de acordo com as tradições judaicos-critãs ocidentais (lembre-se, o gênero cristão não é um conceito errado, é apenas um dos muitos conceitos de gênero existentes no mundo).
Para a sociedade cristã, se você nasce com um corpo de um jeito, com altas taxas de testosterona e um pênis, talvez, você deve se portar de um jeito: Gostar de futebol, de cerveja, ser grosseiro, falar alto, intimidar. Agora, se você nasce com seios ou uma vagina, talvez, você deve ser delicada, subserviente, multitarefas e defender o que entendemos por "feminilidade" (outro conceito também criado socialmente).
Dessa maneira, a biologia de um corpo humano não faz muita diferença na prática pois, ao analisarmos friamente, o corpo humano tem muito mais similaridades do que diferenças. Acontece que nossa sociedade, cristã-ocidental, gosta de reforçar essas diferenças para atender interesses políticos e religiosos. De que maneira? Quando na bíblia diz-se "E Deus criou o homem e a mulher", os cristãos dizem ao mundo: "Olha, só haverão dois gêneros que levam em conta características genéricas que nem sempre dá certo com todo mundo pois corpos são diferentes, mas ignoramos isso pra atender nossos próprios interesses". Em outras palavras, "vocês que lutem pra se encaixar no padrão que nós criamos em relação a esses corpos porque precisamos manter nossa doutrina de forma específica".
Para que isso fique mais claro, vamos a um exercício: imagine uma mulher sem "vaidades". Ela usa o cabelo curto, usa roupas neutras (que são chamadas erradamente de roupas masculinas), não usa adornos como joias, por exemplo. Essa mulher é tratada como o que? Como lésbica, como desleixada, sendo que desleixo, a meu ver, é mais uma questão de higiene (algo que todo ser humano tem que ter) e lésbica pra mim não é algo negativo.
A mulher que não se submete a essas condições criadas pela sociedade judaico-cristã é marginalizada, é mal vista socialmente, porque ela precisa se submeter a isso pra "se diferenciar" de um homem. Ela precisa usar roupas e sapatos que tirem sua mobilidade plena, ela precisa usar cortes de cabelos e maquiagem que a ocupe, que a preocupe, para que ela não se meta com assuntos "dos homens". E tudo isso eu boto com muitas aspas para que fique evidente o quanto é absurdo o conceito de gênero criado pelos cristãos.
Muitos desses seres humanos que são considerados "mulheres" não engravidam, não menstruam, não tem seios grandes, não tem muitas características do que se considera uma mulher mas mesmo assim a sociedade cristã as obriga a agirem e se portarem de um jeito porque nasceram com uma vagina (ou um pênis invertido, ou desenvolvido de outra maneira). Nesse sentido, é imposto um gênero aquela pessoa somente por uma característica física qualquer. Entenda que essa pessoa, ao longo da vida, será cobrada duramente para que esse gênero fique mais evidente, ainda mais se essa pessoa for o que chamamos de mulher.
A filósofa Simone de Beauvoir discorreu sobre isso em sua obra literária "O segundo Sexo" em 1949. Veja que incrível: uma mulher, na década de 40, escrevendo sobre gênero, quando ninguém falava sobre isso. Essas concepções que Simone discorre mostram como o gênero é algo social e não biológico, ela foi uma revolucionária ao falar disso numa época que a mulher não tinha voz pra nada.
Simone alega que a mulher é sempre colocada como oposta ao homem, como se o homem fosse o correto, o direito, a razão, e a mulher à esquerda, a emotiva, a falta de razão. Mas mais que isso, Simone diz que a sociedade cristã trata a mulher não somente como oposta ao homem, mas também como se o homem estivesse numa posição de neutralidade e a mulher de parcialidade.
Enfim... como chegamos até aqui? Em 2015 caiu uma questão no Enem que falava sobre nossa querida filósofa e também sobre a concepção de gênero que ela trabalhou, ou seja, o gênero tratado como questão social (e não meramente biológico). Nesse sentido, grupos de direita começaram uma verdadeira caça às bruxas a grupos feministas e a própria filósofa com criação de fake news. Por que Thainá? Porque eles não querem que a socidade saiba que a concepção de gênero deles foi criada pra atender interesses religiosos e políticos. Para esses grupos conservadores, é interessante que pensemos que a mulher é multitarefas porque o cérebro dela é assim (e não porque somos cobradas pra ser assim). É interessante pra conservadores que acreditemos que mulheres são emotivas e histéricas porque tá no nosso DNA (e não porque eles querem invalidar nossas opiniões). Enfim...
Existe um perigo maior ainda: a comunidade LGBT, grande parte, acredita nisso. Tanto que a mídia que se quer pintar de progressista está pipocando pautas como transsexualidade, gênero neutro, não-binariedade. As mulheres trans e travestis do Brasil dizem que nasceram com pênis mas "se sentem" mulher. Sendo que mulher não é um sentimento! Ser mulher é uma criação social com imposição de comportamentos. Como estas pessoas gostam ou se identificam com esses comportamentos, elas dizem que se sentem assim. Mas não: não se sentem assim, apenas tem gosto pelo que é considerado feminino. Essa é uma armadilha que infelizmente muitos LGBT tem caído...
Ser homem ou mulher é um conceito social de acordo com a tradição cristã, lembrem-se disso, ao passo que não se adequar a esse padrão é algo totalmente normal e saudável. Aí sim, estamos falando da verdadeira não-binariedade. Essa sim tá na moda, desde que nossos ancestrais povoaram esse mundo.
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