quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Por que o vídeo de Clarice Falcão é associado à Esquerda?

As vezes fico um pouco decepcionada de associarem certas pautas a nós da Esquerda e ultimamente o que tem sido visto é justamente o vídeo clipe da cantora Clarice Falcão, onde há nudez explícita. O mesmo aconteceu com aquela peça "Macaquinhos", onde havia sexo explícito.

Por que o vídeo de Clarice Falcão é associado à Esquerda?
Ser de Esquerda é defender um modelo econômico estatal, é defender liberdades individuais (desde que não afetem a vida de outras pessoas), é saber que numa sociedade há diferença entre as pessoas então todos devem colaborar para que elas sejam minimizadas... Ser de Esquerda não é querer ver pênis e vaginas coloridxs.

Sei que a liberdade sexual e a liberdade individual tornaram-se pautas da esquerda pelo simples fato do conservadorismo aliado ao capitalismo excluí-los. Respeitamos as causas onde isto é mais evidente, queremos a promoção da tolerância e da diversidade, mas parem de dizer que clipes como o da Clarice e atitudes onde há promiscuidade sexual é coisa de esquerdista pois 99% das pessoas na esquerda criticaram esse clipe e os outros 1% não se importaram. Não vi ninguém abraçar a causa e compartilhar tal vídeo querendo revolucionar. Não vi um militante na esquerda elogiar esse clipe.

Clarice Falcão é uma mulher que vive bem financeiramente, está dentro dos padrões impostos pelo conservadorismo/ machismo, é estudada e famosa. Talvez não precise tanto de apoio da esquerda para suas demandas mas ainda sim é bem vinda como militante. Eu, como feminista, sempre irei apoiar mulheres que falam por nós mesmas. No entanto, ela está promovendo sua carreira, isso nada tem a ver com política, com ativismo e se analisarmos no cenário atual, até afasta os trabalhadores da luta da esquerda. Esse é um ponto importante que a "nova esquerda" precisa se dar conta.

A maior parte da população pobre e trabalhadora teve criação conservadora, cristã e provavelmente se chocaria com um clipe deste (eu mesma achei super desnecessário). Se operários que sofrem as mazelas do capitalismo não se sentem confortáveis nessa luta podem procurar outras referências, enfraquecendo assim a luta de classes, consequentemente adotando um estilo de vida desrespeitoso e intolerante com a comunidade LGBT, por exemplo. O fim do capitalismo é a única maneira de se obter uma sociedade igualitária, onde homens e mulheres possam exercer suas liberdades individuais sem serem mal falados e consequentemente a nudez deixe de ser um tabu.

Muitas vezes é preciso entendermos o contexto social onde o conservadorismo ocorre, por que ocorre e lembrar que nem todo mundo que pratica um ato retrógrado é fascista. A essas pessoas pode ocorrer a falta de instrução, educação e não é expondo genitálias que farão se desconstruir. Precisamos nos organizar didaticamente pra atrair a militância mais necessária, que é a do pobre trabalhador. O fim dos tabus sexuais e do desrespeito para com a diversidade será apenas a consequência 😉

domingo, 18 de dezembro de 2016

Estudo das Relações Étnico Raciais no Brasil - parte 4

Continuando os textos sobre "Estudo das Relações Étnico Raciais no Brasil", quero compartilhar com vocês uma visão totalmente diferente do que já vimos por aqui, eu diria até com um caráter reacionário, mas que também é abordada na faculdade de História, sobre africanidade, negritude, período escravocrata, etc.

Confira aqui as postagens anteriores:
Tive em mãos durante minhas aulas de Estudo das Relações Étnico Raciais no Brasil um texto do autor Mia Couto, escritor moçambicano, cujo objetivo é demonstrar que os problemas enfrentados na África subsaariana não são de exclusividade da colonização européia.

Sabemos que europeus e estadunidenses tentam dominar meio mundo, invadem países impondo sua cultura, seus modos de viver e roubando suas riquezas mas não podemos culpá-los 100% como responsáveis pelos problemas no planeta, até porque isto não ocorreria sem a conivência de nativos destes locais "colonizados".

Mia Couto cita em seu texto "Os sete sapatos sujos" sete atitudes que contribuem para que o estado de pobreza extrema se perpetue tanto tempo em certos locais na África. A questão não trata-se de responsabilizar o negro africano por seus problemas no geral mas entender como uma auto crítica. As mesmas coisas citadas por Mia podem facilmente ser aplicadas no Brasil, se pararmos pra analisar:

O que é entendido como problema para o desenvolvimento africano:

  • A ideia de que o culpado são sempre os outros e nós somos as vítimas: Mia Couto acredita que o domínio europeu na África causou seus enormes prejuízos mas também criou uma mentalidade de não responsabilidade por parte de alguns nativos africanos;
  • A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho: Muitos nativos africanos se acomodam em suas situações sociais por acreditar que quem avançou em escalas sócio-econômicas teve "sorte", é espiritalmente abençoado, coisas do tipo;
  • A ideia de que as críticas são sempre negativas: Acreditar que o quem orienta de forma correta e dura está fazendo-o apenas por inimizade;
  • A ideia de que mudar as palavras muda a realidade: Mia Couto entende que se importar com certas expressões usadas no dia a dia impede o progresso pois o que importa de fato seriam as "atitudes" das pessoas;
  • A vergonha de ser pobre e o culto das aparências: O nativo africano muitas vezes se sabota ao tentar ser o que não é, adotando um estilo de vida não condizente com suas condições financeiras. É um incentivo a um mundo de aparências. Aqui no Brasil chamamos de "ostentação";
  • A passividade perante as injustiças: Mia acredita que muitos nativos africanos são inertes em casos de violência, principalmente a contra às mulheres e crianças. Ainda existem comunidades africanas que mantém rituais violentos como a Excisão (mutilação genital feminina) e o "achatamento dos seios femininos" nas garotas mais jovens;
  • A ideia de que para sermos modernos devemos imitar os outros: Mia é específico em seu texto ao definir "os outros" como os colonizadores da maior parte da África;


Quis deixar este texto bem resumido de acordo com o que foi dado em sala de aula, não digo que concordo com tudo que é mencionado mas alguns pontos achei importante. Nos próximos textos posso adentrar em cada tópico mencionado dando meu ponto de vista e de outros autores mas na postagem de hoje ficaremos somente com o lecionado na faculdade.

Um abraço, Thainá Santos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Por que há mulheres contra o Feminismo?

A tempos atrás conversando com uma amiga ela vira e diz que "odeia feministas". Pouco tempo depois conheci uma página no Facebook cujo título é: "Moça, não sou obrigada a ser feminista". Eu me perguntava: _Onde estas mulheres estão com a cabeça? Como elas podem ser contra nós mesmas? Porque Feminismo pra mim sempre foi um movimento político-social em busca de igualdade entre gêneros. Daí que comecei a perceber que pra muitos não é.

De 2013 pra cá fala-se MUITO sobre Feminismo nas redes sociais mas eu sempre ouvi falar, desde criança. Quando mais jovem assistia muito a novela "O Cravo e a Rosa" onde a Catarina, personagem principal, era feminista. Também assistia a série "Married with Children" (Um amor de família) em que a vizinha amiga da família protagonista também é feminista. Sempre conheci os estereótipos negativos (mulheres que odeiam os homens, não se depilam, não gostam de sexo) mas consciente de que eram apenas besteiras, que o real feminismo não é isto.

Daí quando comecei a ver páginas anti feminismo, mulheres postando contra o feminismo, eu pensava: Como assim gente? Feminismo não é isto!! A primeira reação é de ataque, a gente quer colocar na cabeça das pessoas a verdade, quer fazê-las enxergar que estão erradas e o risco de cometer um erro é grande. Nos tornamos pessoas agressivas e em nenhum momento paramos pra pensar porque muitos pensam diferente da gente.

A verdade que a militância feminista mudou. Antes, um movimento burguês meramente limitado a questões de gênero e direitos civis. Hoje em dia o Feminismo está diretamente ligado a esquerda, ao comunismo, aos movimentos sociais, a luta LGBT, ao movimento negro, etc. Claro que isto é ótimo mas também há pessoas exaltadas que não sabem ser didáticas, impacientes e que acham que todos vivem no ambiente de militância. Estas pessoas são a resposta do porquê muitos pensarem diferente da gente, do porquê muitas mulheres não gostarem do feminismo (fora o poder do patriarcado que faz certas moças acreditarem não precisar de direitos). 

A verdade que, em relação ao número de brasileiros, os militantes ativos da esquerda ainda são muito poucos. Nem todos tem acesso a universidades, ambientes acadêmicos e virtuais, páginas de feminismo e esquerda, bibliotecas, livros, etc. Nós devemos ser pacientes pra ensinar essas pessoas mas acima de tudo entender quem prefere se dizer "não-feminista".

Mulheres que odeiam o feminismo

Claro que fico triste das pessoas terem uma impressão ruim do feminismo, chegarem a informações distorcidas, mas ultimamente a pratica do feminismo na vida tem sido mais relevante que as palavras, pelo menos pra mim. A participante vencedora do Masterchef disse que não se sente ícone feminista e não se considera feminista, mas surpreendeu a todos vencendo numa competição onde o machismo impera, trabalha num ambiente onde mulheres são minoria (entre chefs de cozinha), mostrou seu talento e calou a boca de muita gente. Então Dayse, você não precisa se dizer feminista, não precisa se dizer nada, você praticou o feminismo sem saber, sem querer e pra mim isto que importa. Parabéns pela sua vitória 💛💓

Estudo das Relações Étnico Raciais no Brasil - parte 3 - Um pouco da cultura Africana

Nos textos anteriores (parte 1 e parte 2) dividi os com vocês alguns conceitos estudados na disciplina "Estudo das Relações Étnico Raciais no Brasil". Hoje, continuando o estudo, vamos conhecer através do professor Kabengele Munanga alguns pontos importantes quando falamos de cultura africana.

Kabengele Munanga é professor especialista em antropologia da população afro-brasileira, mora no Brasil mas nasceu em no Congo, onde iniciou seus estudos e graduou-se em Ciências Sociais.
Resumo sobre Cultura Africana
Professor Munanga: Mito!!

É interessante notar o quanto a cultura africana é semelhante a brasileira. Não podemos cair no erro de achar que há unanimidade comportamental em todos os países mas existem pontos em comum que formam a verdadeira identidade africana. A África subsaariana é a que mais apresenta tais características e é delas que falaremos abaixo.

Um aspecto cultural muito marcante na África subsaariana é como seus nativos encaram a morte. Para eles a perder a vida não é um fim com caráter separativo pois entende-se que há união entre os vivos e os mortos, através do legado deixado pela ancestralidade. Em outras palavras, os vivos são "unidos" aos mortos, por transmissão de forças inter parentais.

Maturidade: Para uma pessoa ser considerada adulta entendemos que deve sair da casa dos pais e ser capaz de sustentar-se sem ajuda de ninguém. Também associamos isto ao casamento. Já na África a vida adulta é caracterizada pela capacidade de suportar dores. Rituais de sacrifício servem para demonstrar o quanto madura e evoluída uma pessoa está.

Governo: Nos povos africanos é comum entender-se que o soberano é o povo, que este é o ser mais importante para representá-los, tanto que quando um governante caiu doente, por exemplo, deve ser afastado para que seu povo não "torne-se doente também". Muitas vezes são induzidos ao suicídio. Os chefes de estados são mantidos no poder por ancestralidade e socialização.

Unanimidade: A África possui um aspecto que eu, Thainá, considero de um caráter pacífico que é a unanimidade. Os mais maduros de um vilarejo ou localidade tendem a tomar decisões somente quando há um consenso sobre os mais diversos assuntos, evitando assim conflitos e possíveis guerras.

Família: É comum os africanos manterem proximidade com suas mães até a vida adulta e casarem-se por conveniência (casamento arranjado). Muitas vezes a ficção nos mostrou o casamento arranjado como algo negativo e repudiante mas devemos entender que o "amor romântico" e o "casamento por amor" são coisas relativamente modernas: a maioria das sociedades viviam assim no passado e não chegou-se a criar problemas sociais graves por conta disto. Na África o casamento também revela um status de acordo com quem você é arranjado, a qual família pertence e pertencerá (isso não é muito diferente daqui, né?). Há um laço forte de ternura entre os netos e os avós, uma certa cumplicidade porque avós = 💗 e também vemos muito disso em outras culturas. Na sociedade africana não há papel social para o solteiro e é incentivado o casamento e reprodução de pessoas com graus de parentesco muito distantes ou zero (exogamia).



>>> Confira aqui a quarta e última parte desta leitura

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Estudo das Relações Étnico Raciais no Brasil - parte 2

No primeiro texto acerca do Estudo das Relações Étnico Raciais no Brasil compartilhei por aqui alguns aspectos da vinda dos negros africanos para o Brasil que foram escravizados pela colônia portuguesa.

Vimos que os negros africanos foram escravizados, afastados de seus conhecidos e familiares que também vieram juntos, tiveram sua cultura demonizada para perder sua identidade como unidade e apesar disto, ainda sim, tornaram-se parte da cultura brasileira escrevendo sua história.

Hoje em dia já possuímos políticas públicas de reparação destes danos e tentamos pagar esta dívida histórica mas nem sempre isto tem se mostrado suficiente. Esta frágil democracia é muito mais teórica que prática. Nossa Constituição Federal já indica punição para casos de racismo, mas pouco acontece na prática e quase nada impede novas situações.

Sociólogos já constaram que quando alguém comete um crime, esta pessoa tende a "clarear" sua pele diante da justiça para obter uma pena menor. Não é difícil notar que os brancos ainda vivem em situação melhor que os negros: chegam a maiores níveis educacionais, são maioria dentre os mais bem remunerados, réus negros tendem a sofrer maior perseguição, dentre outras coisas que não é uma suposta doutrinação que indica, são fatos que podemos observar facilmente no nosso dia a dia.

O conceito de Negritude é aliado a uma ideia de movimento social que pretendeu romper com o padrão europeu imposto por nossos "colonizadores". O Movimento Negro sempre pretendeu a busca da valorização da cultura negra e respeito por ser quem é. Muitas vezes entrou em contradição com seus aliados, mas uma coisa é certa: É unânime o não querer voltar a um estado de alienação (escravidão).

Outro consenso dentro dos Estudos das Relações Étnico Raciais no Brasil é o silenciamento do Índio e do Negro na época da colonização. A escravidão poderia ter ocorrido com outros grupos étnicos e até nos dias de hoje ainda ocorre (de outras maneiras, com outras pessoas), mas daí negar sua existência é muita má fé. Existem grupos reacionários agindo online que tentam deslegitimar o Movimento Negro como se este fosse inútil, mas isto é um bom exemplo do que o racismo e a escravidão deixou como legado. O racismo e a escravidão do negro africano deixou uma cicatriz tão profunda em nossa cultura que muitos negros não se identificam com o movimento negro, acreditam que denúncias de racismo é "frescura" e que qualquer ofensa é vitimização por parte de seus semelhantes, logo, nem todos vivem esse conceito de Negritude.

Pode-se entender como início dessa tomada de consciência por parte dos escravizados a ação de Zumbi no Quilombo dos Palmares. Este incentivou os escravizados a fugirem de seus senhores para assim tornarem-se donos de si mesmo. Este comportamento de fato foi revolucionário e por conta disto a data de 20 de novembro (morte de Zumbi) foi escolhida para celebrar o Dia da Consciência Negra. Poderia ter, por exemplo, sido escolhido a data de 13 de maio (Lei Áurea/ Dia da Abolição da Escravidão) mas isto pouco significou na época, eis que a abolição não criou medidas de inserção do negro no mercado de trabalho formal, escolas, universidades, por exemplo.


O próximo texto vai falar sobre costumes e cultura africana, não percam!! Siga o Blog pra acompanhar de perto das atualizações. Um abraço, Thainá Santos.

>>> Veja aqui a terceira parte desta leitura

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Estudo das Relações Étnico Raciais no Brasil - parte 1

Nesta postagem quero dividir com você que chegou agora alguns conceitos e aspectos dos Estudos das Relações Étnico Raciais no Brasil. Esta disciplina cursei no primeiro período da faculdade de História e, embora aborde um contexto quase que 100% histórico, também é lecionada nas faculdades de Pedagogia, Letras, Serviço Social, etc.

Mesmo sabendo que no Brasil há uma grande miscigenação graças a imigrantes de outros países, o foco desta matéria é encima da cultura afro-brasileira, eis que os negros africanos foram o grupo social mais negligenciado em nossa historiografia. Como a História do Brasil foi escrita utilizando a colonização européia como parâmetro e o negro africano foi escravizado durante muito tempo, nada mais justo que o Estudo das Relações Étnico Raciais no Brasil focar-se na valorização desta cultura.

O Brasil foi o último país latino-americano que aboliu a escravidão: o cativeiro durou por mais de três séculos deixando marcas sociais muito fortes, podemos percebê-las até hoje. Isto inibiu discussões sociais por muito tempo além de ter criado "hierarquia" nos nossos modos de viver. A violência tornou-se intensa e o trabalho manual era quase que 100% exclusivamente destinado ao negro.

Resumo sobre Escravidão negra no Brasil
Negros africanos escravizados ao chegar no Brasil
Quando chegava ao Brasil, o negro africano era escravizado e perdia parte de sua cultura. Embora isto não pareça grave pode-se observar o quanto influenciou para a manutenção de privilégios do povo branco. A cultura de um povo é tão importante mas tão importante que quando este é dominado, umas das primeiras coisas que ocorrem é a destruição de seus símbolos e monumentos. Isto o faz enfraquecer como unidade tornando-se mais vulneráveis. Desse modo, "demonizar" e escarnecer tudo que era relativo a cultura africana era um dos principais objetivos de nossos colonizadores. Ao negro africano era negado o conhecimento sobre seus antepassados, sua cultura, seus deuses, etc. O afastamento de seus conhecidos ao chegar em nossas terras contribuiu muito pra isso também.

As vezes ocorriam atos de rebeldia como suicídios coletivos, rebeliões, fugas, etc. O banzo era o sentimento de tristeza e depressão que assolava a maioria dos negros escravizados, com saudades de sua vida na África, levando-os a loucura, estresse, vontade de morrer. De certa forma isto contribuiu para a imagem de uma sociedade paternal pois os senhores tratavam os escravizados de maneira proprietária.

Pela ausência de leis específicas segregadoras, como o Aphartheid na África do Sul por exemplo, o Brasil vive até hoje um racismo velado. As pessoas escondem o preconceito atrás de "brincadeiras" e se ofendem quando o negro não as aceita. O silêncio sobre o racismo não quer dizer que ele não exista.

A escravidão do negro africano também contribuiu para o crescimento do Capitalismo pois este fortalece-se através da dicotomia social. Aos escravizados era negado o direito e relativizavam muito leis que pudessem beneficia-los de alguma maneira, sendo assim, a marginalização desse povo institui-se de um jeito muito forte em nossas terras.

O final da escravidão era paralelo ao fim da Monarquia. Mesmo assim houve resistência de senhores brancos que não queriam perder seus privilégios, desse modo surgiram "intelectuais" dispostos a provar por meio de estudos que o negro era inferior ao branco. Conhecemos também isto como "Racismo Científico". Posteriormente estas teorias foram todas refutadas mostrando seu descabimento, mas ainda hoje existem pessoas que acreditam nestas besteiras.

Disto também resultou a política de "embranquecimento populacional", quando a coroa portuguesa incentivou imigrantes de outros países a se alojarem no Brasil, desde que fossem brancos. Casamentos inter-raciais eram permitidos e também incentivados, desde que objetivassem um embranquecimento da população.

O fim da escravidão no Brasil nunca pode ser visto com um olhar revolucionário eis que não foram criadas medidas pra inserir o negro no mercado de trabalho formal nem políticas de empoderamento (esta estão sendo criadas agora, olha quanto tempo depois). Assim se deu os primeiros momentos do negro africano no Brasil, infelizmente, carregados de abusos, dor e sofrimento.



Espero que tenham gostado deste primeiro texto, vou fazer mais continuações e posto aqui sempre atualizando. Nesse primeiro momento é importante abordar como se deu a escravidão para depois adentrarmos em mais detalhes. Também quero deixar registrado que o estudo da cultura africana (não a afro-brasileira) também será compartilhado pois nunca é tarde pra recuperarmos a auto estima desse povo que praticamente construiu nosso país.

Beijos, Thainá.

>>> Veja aqui a segunda parte desta leitura

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Anacronismo, Homofobia e Fidel Castro

Anacronismo é o ato de atribuir a um determinado período histórico um caráter errôneo, cobrar de indivíduos certos comportamentos não condizentes com a realidade vivida naquele momento.

Durante muito tempo vi pessoas dizendo que criminalizar a homofobia é "privilégio" pro gay, casamento civil igualitário é "privilégio" pro gay, ensinar sobre gênero nas escolas é "doutrinação gayzista" e que "Deus abomina o pecado mas ama o pecador".

Daí Fidel Castro morre e começa uma linda preocupação dessa gente com o quanto ele era homofóbico... que hipocrisia...

Fidel era um homem homofóbico sim (no conceito atual da palavra), assim como todos naquela época, assim como a maioria dos idosos é hoje em dia. Essa era a cultura daquele tempo, até a própria medicina considerava o gay um doente (hoje em dia estudos mostram que não são). Só pra constar, no ano 2010 Fidel Castro admitiu o erro e pediu desculpa a comunidade LGBT (e você aí curtindo "Orgulho Hétero")...

Então xingar a esquerda com o argumento de que Fidel Castro era homofóbico é de uma má fé sem tamanho, pois além dele ter se retratado, estas pessoas não estão preocupadas verdadeiramente com a Homofobia. Vivem reproduzindo jargões carregados de preconceito e dizem que é apenas "a opinião delas". Será?

Existem discursos rasos que incitam a homofobia ("Gay não é normal", "Deus ama o pecador mas não o pecado", "Pode ser gay mas não pode desmunhecar", etc)... Se você já reproduziu uma delas não quer dizer que você seja homofóbico por completo, mas ainda não parou pra pensar na mensagem dessas frases prontas.

E a faculdade? Fim do primeiro semestre

Se você está chegando aqui agora, deixa eu explicar. Sou formada na faculdade de Direito ⚖ que ingressei aos 18 anos. Na época foi apenas para satisfazer uma preocupação dos meus pais pois eu não sabia de fato o que cursar. Em meados do curso notei que não gostava muito e fui empurrando com a barriga até me formar. Não foi uma graduação excelente mas deu pra aprender bastante coisas. 

Desde então eu tentava me encontrar em várias coisas, até pro exterior eu fui (veja os posts sobre a Vida de Au pair), até chegar ao ponto de me matricular na Faculdade de História, que estou cursando no momento.

É muito difícil iniciar uma graduação após estar casada e/ou com filhos. Quando a gente não tem opção de "não trabalhar" é muito ruim conciliar estudos e emprego. Atualmente vendo doces e salgados (como muitos do Youtube sabem) e isso me ajuda pois eu consigo adaptar meus horários à faculdade.

Fiz uma postagem assim que entrei na faculdade dizendo que, não importa se é filhos, maridos, problemas de saúde e/ ou trabalho. O que mais atrapalha a gente iniciar um curso ou graduação são nossos pensamentos. Quanto mais a gente pensa mais a gente adia, sou super a favor de se jogar mesmo tendo medo. Sei que existem fatores que dificultam isto mas muitas vezes a vida nos mostras um caminho quando já estamos trilhando.

Hoje fiz minha última prova e posso dizer que tive um semestre excelente 😃 Mesmo tendo mais dificuldades que na época que morei com meus pais, hoje faço algo que gosto e tem uma super diferença nesse ponto. Consegui acordar cedo sem muitos dramas, frequentar todas as aulas e ter a matéria em dia, prestar atenção quase que 100% nas aulas e assim obtive êxito. O fato de ser uma segunda graduação também ajudou muito pois já me conheço e sei as melhores maneiras de estudar.

Então, se você quer iniciar uma graduação depois de "velha" (isso é modo de dizer) não pense muito. Também procure se informar como é o dia a dia da profissão escolhida e sobre as disciplinas cursadas pra ver se pelo menos rola uma identificação. Também veja vídeos e leia sobre métodos de estudos e concentração (eu, por exemplo, faço resumos) e matricule-se. Comece 2017 realizando esse sonho 💗💘

sábado, 26 de novembro de 2016

5 mitos sobre Fidel Castro e Cuba

Hoje é um dia triste para os ideais socialistas, nosso eterno comandante Fidel Castro se foi e deixou seu nome na história e na cultura Cubana. Mas além da dor da perda, ainda temos que lidar com a ignorância de grupos reacionários que deturpam seus ideais.

Ainda que você tenha preferência por um sistema econômico diferente do Cubano, tenha ao menos a decência de respeitar o nome de Castro, que revolucionou ao não prostituir seu país ao interesses Estadunidenses (já não podemos dizer o mesmo do Brasil).


Abaixo, alguns mitos e verdades sobre Fidel Castro e Cuba:

  • Fidel Castro era homofóbico? Eu sou totalmente contra a homofobia e sei que ela não se limita à violência direta mas também está contida em discursos travestidos de opinião. Não aceito de jeito nenhum, mas entendo que no passado a cultura era homofóbica e sendo assim, relevo casos onde a homofobia é perpetrada por um idoso. Fidel Castro pode ter se posicionado homofobicamente no passado mas já se declarou na década de noventa pedindo desculpas aos homossexuais. O curioso que a maioria das pessoas que dizem que Fidel era homofóbico são homofóbicas: não estão nem aí pra comunidade LGBT, só querem difamar Fidel. Hipocrisia define!! A sobrinha de Fidel Castro, Mariela Castro, é, atualmente, militante na causa gay;
  • Fidel Castro era ditador? Fidel concentrou os poderes nas mãos dos trabalhadores impedindo privatizações e intervenções norte-americanas na economia. O conceito de ditadura e democracia são muito frágeis diante do que vivemos então é bom estudar um pouco e principalmente observar a vida prática antes de soltar esse tipo de acusação. Aqui no Brasil por exemplo achamos que vivemos numa democracia, mas atualmente passaram por cima de nossos votos colocando um presidente golpista no poder, então, é bom refletir. Uma bom meio de pensar nisto é observar o que temos em relação a "liberdade de expressão". Você acha possível noticiar qualquer tipo de coisa aqui no Brasil? Você não acha que deve haver um filtro que impeça propagação de notícias falsas e discursos de ódio? 
  • Cubanos fogem para os EUA? Estar insatisfeito com seu país não é exclusividade cubana. Quantos brasileiros você conhece que sonham em emigrar? E o Brasil é um país capitalista.!! Cuba não é um país perfeito mas dedica-se a investir no que realmente importa: Educação e Saúde;
  • Há racionamento de comida em Cuba? NÃO!! Em Cuba as pessoas têm acesso a alimentação gratuita e esta sim é racionada, porém, caso queiram adquirir um pouco mais, paga-se por isso. O que há de anormal nisto? Nada!
  • Cuba é um país perfeito? Não. Não existem países perfeitos. Até as nações mais desenvolvidas como as do norte europeu possuem problemas (se não em seu país, nos países que exploraram). No entanto Cuba é um local com acesso gratuito a educação e saúde. É considerada a nação com mais pessoas estudiosas e cultas, menor desigualdade de gênero e modelos educacionais mais desenvolvidos. A taxa de analfabetismo é zero, assim como a de crianças moradoras de rua. Cuba é considerado o melhor país da América Latina para mulheres e crianças viverem, e a comida distribuída gratuitamente é de acordo com as demandas de cada família (onde moram pessoas doentes é distribuído de acordo com dieta adequada). Todos que vão a Cuba conseguem perceber que há tratamento igualitário entre todos os profissionais, sendo o gari tratado com o mesmo respeito que o advogado;

Existem somente dois tipos de pessoa no Brasil atualmente, as que estudam História e as que consomem a mídia. É lógico que o imperialismo norte-americano faz de tudo pra distorcer o que sabemos sobre a vida em Cuba mas Fidel Castro já fez seu nome na história, e como ele mesmo disse, condenaram-o, mas a História o absolverá ✊ #HastaSiempreComandante

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Temer/ Geddel/ Calero: Entenda o caso

Hoje de manhã fui surpreendida por uma notícia quente a respeito de nosso presidente golpista Michel Temer

Seu Ministro Geddel Vieira Lima "pediu demissão" nesta sexta-feira após tornar-se público o fato de que Marcelo Calero, ex-ministro da Cultura, foi coagido a autorizar uma obra de um prédio de 30 andares numa região historicamente protegida em Salvador. Michel Temer e Geddel foram os responsáveis por tal intimidação. Isto configura crime de tráfico de influência.

O Tráfico de Influência é qualquer crime contra a administração pública em que, quem comete, obtém vantagem para si, através de coação ou ajuda de funcionário público, por exemplo.

Lembre-se que nosso ex-presidente Lula responde por este crime em favor da Odebrecht, quando liberou verba pra empreiteira, na surdina, através do BNDES. Sim, tecemos críticas a Lula quando necessário pois somos a favor da justiça.

Nós da esquerda nem sempre apoiamos Lula. Muitos são críticos ao governo PT acusando-o de se afastar dos reais pilares da esquerda, muitos optaram por Dilma por achar os outros candidatos piores e muitos, como eu, queriam alternância no poder (mas tivemos que optar por Dilma no segundo turno pois "tucanos" são inviáveis).

Mas criticar o governo Lula não torna o de Temer melhor. É inquestionável que se o que está ocorrendo fosse com nossa presidenta eleita Dilma, já teriam pessoas nas ruas batendo panela e xingando-a de todos os nomes.

Quis deixar registrado isto para que não digam que todos na esquerda são "petistas" e nem que não olhamos nosso próprio rabo. Isso a gente deixa pra direita de Michel Temer, que hoje está mais silenciosa do que nunca. Vamos bater panela povo!!

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Direitos Humanos (Esquerda) defendem "bandidos"?

Existe um pensamento infundado de que quem se posiciona politicamente à esquerda do conservadorismo, necessariamente, defende criminosos.

Vamos começar do início: a lei brasileira caminha para uma maior "suavização" de penas e multas em caso de criminalidade, isto já é uma tendência legislativa e você vai entender o porquê: acontece que máquina carcerária brasileira já está saturada e o principal objetivo, que é a ressocialização, tornou-se impossível na maior parte dos presídios. Isto também acontece pra criar brechas que possibilitem criminosos de maior poder aquisitivo (como políticos, por exemplo) de continuar cometendo seus crimes. Vergonha né?

Mas esta "suavização" não ocorre só no Brasil: a tendência mundial é que todos são inocentes até que se prove o contrário. Quando este fenômeno ocorre pra beneficiar quem não merece nós devemos sim nos indignar mas não é sempre que isto acontece.

O princípio de que todos são inocentes até se prove o contrário advém da ideia de que, é melhor um criminoso solto do que um inocente preso, pois o criminoso pode mudar, deixar de cometer crimes, mas um inocente preso nunca terá seu tempo perdido recuperado, nem mediante indenizações, será um trauma eterno na vida da pessoa.

A própria história nos mostra que políticas de tolerância zero aliadas à práticas violentas causaram mais prejuízos que benefícios; o holocausto judeu na Alemanha nazista é um bom exemplo disso, e a partir dele criou-se a ideia de Direitos Humanos.

Os Direitos Humanos são princípios que permeiam nossa lei e nossa cultura, mas infelizmente usam de má fé pra difundi-los. Eu, particularmente, acho que todos devem pagar pelo mal que cometem, mas infelizmente quando pensam nisso só se lembram do pobre e negro que bate carteira. Dificilmente você vê alguém pedir linchamento de empresário explorador, de playboyzinho que bate na namorada, de amigo que estupra a própria esposa... enfim... toda a atual esquerda é contra esta injustiça que fecha os olhos para os bandidos "ricos". Daí quando defendemos que um pobre e negro tenha uma pena justa, dá a entender alguma espécie de defesa anulatória de pena. Não é!

A verdade que os trabalhadores do poder judiciário, se praticarem o que aprendeu, vão saber que justiça é diferente de vingança e não passamos mais de cinco anos numa faculdade de Direito pra qualquer pessoa achar que sabe o que está fazendo. Existe uma lei, um estudo e principalmente uma Constituição que deve ser respeitada, uma Constituição que proíbe justiça com as próprias mãos.

Além disto, não é razoável que se mate uma pessoa por um crime de furto, por exemplo, pois a realidade socio-cultural influencia demais nesse tipo de crime. Sei que existem ladrões que vivem em boas condições e mesmo assim praticam barbaridades, no entanto, estou falando daqueles que por uma dificuldade prestou-se ao crime. Se notarem, todos os países que investem em educação fortemente apresentam baixas taxas de criminalidade, isto porque é mais do que claro que o ambiente influencia sim a conduta de uma pessoa.

Enfim, deixem a justiça para que os próprios profissionais executem e lembrem-se: A esquerda não defende bandido, a esquerda defende que TODOS paguem pela mesma maneira, sem injustiças ou brechas que beneficiem ricos.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Livro: Depois dos Quinze - Quando tudo começou (Bruna Vieira)


No post de hoje vou compartilhar com vocês uma resenha do livro da blogueira e escritora Bruna Vieira (Depois dos Quinze).

A linda já lançou 4 livros ("Depois dos Quinze - Quando tudo começou a mudar" (2012), "De Volta aos Quinze" (2013), "A menina que colecionava Borboletas" (2014) e o "De volta aos Sonhos" (também em 2014) ) e ainda mais um em conjunto com outras autoras.

Sempre admirei o profissionalismo da Bruna Vieira e embora não acompanhe tanto seu blog (pois é escrito para um público adolescente), sigo-a em todas as redes sociais pois me inspira como pessoa. Penso que muitas mães possam ter dúvidas quanto ao livro para permitir que seus filhos leiam, mas fiquem tranquilas pois é um livro muito fofo super adequado a idade. Não fala nada de sexo explícito, política, violência nem nenhum outro tema polêmico que queremos manter distante de nossa família.

Além de estimular a leitura dos mais jovens ainda quebra esse paradigma de que livro de Youtuber é fútil. Sei que ultimamente muitos sentem que no Youtube só há besteiras e youtubers fúteis, mas não é não, basta pesquisar, no Youtube e na blogosfera há muita gente inteligente compartilhando o que sabe e até no que alguns veem besteira há entretenimento.

O Livro é dividido em duas partes: A primeira é repleta de contos de apenas uma folha, estorinhas bem curtinhas, que todo mundo com boa memória sobre sua adolescência vai lembrar. A segunda parte do livro é com algumas estórias mais longas, mas nada de cansativo, são apenas divagações em meio à ficção que, novamente, todo adolescente irá se identificar.

Eu comprei este livro pra apoiar o trabalho da Bruna mas também porque estou cansada de assuntos pesados, política, brigas online que não levam ninguém a nada. Queria ver/ ler algo diferente e apartidário sobre qualquer assunto.

Enfim, é um livro fofo, totalmente voltado pro público adolescente mas que se revela uma boa surpresa pro público adulto. Beijos, Thainá.

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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Trabalho no Mundo Contemporâneo - A História do Trabalho no Brasil

Anteriormente postei aqui neste blog dois textos com a temática do Trabalho ao longo da História (ou Trabalho no Mundo Contemporâneo) num aspecto amplo, mundial. Confiram aqui e aqui.

Hoje quero dividir com vocês alguns conhecimentos a cerca do trabalho e da industrialização especificamente no Brasil.


O trabalho rural (agropecuário) sempre foi forte no Brasil até a década de 1930. No cenário mundial, percebia-se a crise iniciada nos EUA por conta da Quebra da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929, bem como uma Europa se recuperando no pós guerra e com pouco dinheiro disponível. No Brasil, a Revolução de 1930 fez os governos locais (estaduais e municipais) perderam força centralizando-se no governo federal.

Isto implicou na aceleração da industrialização e aumento do fluxo migratório campo ==> cidade. Getúlio Vargas inicia seu governo fazendo concessões ao setor cafeeiro e investindo em setores de base, como o siderúrgico, por exemplo. A modernização era visível e Vargas concentrava cada dia mais poder em suas mãos.

No cenário mundial, graças as crises iniciadas na década de 1930, os sindicatos e setores trabalhistas fervilhavam conquistando o apoio de trabalhadores: o socialismo, através de partidos comunistas, começou a ganhar voz e no Brasil nasceu o "Getulismo".

Diante do crescimento das demandas trabalhistas e setores industriais, Getúlio Vargas objetivava conquistar apoio da população: criou assim a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1º de maio de 1943: um compilado de leis, usado até nos dias de hoje, discriminando direitos e deveres dos trabalhadores.

Era consenso que patrões e empregados possuem uma distância enorme. Entre outras palavras, até hoje notamos como o trabalhador se sente impotente diante do poder de seus chefes. Dessa maneira a Justiça do Trabalho se firmou como órgão de suma importância pra assegurar os direitos dos trabalhadores.

No Direito trabalhista, a figura da Tutela é a proteção estatal para que não haja total liberdade negocial entre patrões e empregados, de modo que deve-se obedecer o previsto em lei. Ainda que haja consenso entre ambas as partes, o estado entende que são partes desiguais, visto que a patrões podem chantagear, manipular e explorar seus trabalhadores em situações de Hipossuficiência.

Ocorre que, em períodos de altíssimas taxas de desemprego, falta de compradores e importadores, muitas empresas tentam flexibilizar os direitos dos trabalhadores para que não haja prejuízo. Isso faz com que setores da esquerda se sintam desrespeitados já que almeja-se poder nas mãos dos trabalhadores. Como lidar em casos assim? Deve-se colocar o acordado acima da lei?

Tal situação fez com que fábricas mudem-se de país em país, buscando sempre se estabelecer onde a lei trabalhista é liberal. Assim é nomeada a Flexibilização Geográfica.

Nos países considerados "primeiro mundo" é comum que  a população trabalhadora ativa no setores primários (agropecuária e criação de animais) seja menor em comparação a países subdesenvolvidos. Mas isto acontece não por falta de fazendas e colheitas mas sim pelo excesso de maquinário no lugar de gente. Como consequência disto a população economicamente ativa tende a diminuir, pelo menos no campo.

No Brasil e no mundo o medo é que esse avanço tecnológico afete outros setores também. Os trabalhadores bancários, por exemplo, estão perdendo espaços para máquinas de auto atendimento. Sendo assim podemos admitir a existência de três tipos de desemprego:

  • Desemprego Friccional: Aquele mais comumente conhecido, em ocasiões simples onde uma empresa necessita de um funcionário específico para determinada tarefa, mas ainda não o possui;
  • Desemprego Conjuntural: São aquelas demissões em massa decorrentes de crises financeiras, como em períodos de chuva prejudicial à colheitas, por exemplo. Tendem a ser temporários e flutuam entre altos e baixos nas sociedades;
  • Desemprego Estrutural: É a verdadeira extinção de vagas de trabalho. O mais comum é ocorrerem por avanço tecnológico;

Como consequência do desemprego estrutural vende-se a falsa ideia de empregabilidade, que é o pensamento de que se uma pessoa está desempregada a culpa é da falta de profissionalização dela, e não das falhas no mercado de trabalho. Alguns defendem até a redução da jornada de trabalho comum no Brasil (40 - 44 horas semanais) como meio de aumentar a oferta de vagas de trabalho. Esta seria mais uma maneira de flexibilizar leis trabalhistas.


Privatizações, terceirizações e parcerias

Na década de 1990 o Brasil entrou na onda das privatizações de empresas antes estatais, como a Usiminas, a Vale do Rio Doce, etc. A desculpa para tantas vendas foram que o serviço público e estabilidade dos funcionários geravam comodidade e queda na qualidade dos serviços. Ocorre que muitas das empresas privatizadas mostraram ao longo do tempo a mesmíssima prestação de serviço. Um exemplo é o antigo BANERJ que foi comprado pelo Itaú: as filas e o atendimento lento diminuíram? Não!

Outro fenômeno bastante usado e fortalecido pelas parcerias público-privadas foram as terceirizações. Se antes todos os funcionários de uma empresa (empregados produtores, serviços de limpeza, serviços de alimentação) eram representados por um único sindicato passaram a ser representados por uma empresa diferente que terceiriza seu serviço. Isto enfraquece o aspecto unitivo dos empregados dificultando greves e protestos em casos de abuso. Ocorre assim o fenômeno conhecido como Reestruturação Produtiva. De certa forma a terceirização contribuiu para a queda nos salários dos funcionários eis que é preciso pagar a empresa terceirizadora.

Algumas empresas apelam atualmente para a produção flexível: seus funcionários trabalham de acordo com a demanda de encomendas e em certas épocas trabalham mais ou menos, de acordo com seus bancos de horas. Os desejos dos clientes tornam-se norte para a produção e a Qualidade Total o principal lema da empresa.

Essa filosofia é falha no momento que só cobra do empregado o dito empenho, eis que ele precisa de um ambiente favorável a criação. O correto seria o empregador proporcionar os meios para conforto e criação impecável, e também estender-se aos outros funcionários, já que a uma produção não depende de uma única pessoa.


Economia Solidária

Atualmente com o crescimento do desemprego estrutural notamos uma certa iniciativa para evitar as pessoas no olho da rua, que seriam o tomamento de empresas falindo por seus funcionários. As cooperativas de trabalhadores unidos em serviços igualitários crescem cada dia mais como maneira de manter-se ativo, consequentemente manter tais vagas.

As pessoas sentem que sindicatos não são mais capazes de manter seus empregos pois a extinção de vagas de trabalho tem ocorrido com o avanço tecnológico. Hoje em dia no Brasil cresceu bastante o número de empresas tocadas pelos próprios trabalhadores e apenas 5% delas é limitada a consumo dos próprios operários.

Um dos pontos fortes da economia solidária é a recuperação de empresas falidas, a maior parte delas concentra-se no nordeste brasileiro, região super atacada pelo desemprego.



Referências bibliográficas:

1. DELGADO, Maurício Goldinho. Capitalismo, trabalho e emprego. São Paulo: LTR, 2005.
2. MARRAS, Jean Pierre. Relações trabalhistas no Brasil. São Paulo: Futura.
3. PINTO, Bernadete E. de Rosa. A flexibilização das relações de trabalho. São Paulo: LTR, 2005.

domingo, 23 de outubro de 2016

A irresponsabilidade de se compartilhar certas informações

Queria deixar claro que aqui na Internet deveria ser como na TV num aspecto: sou a favor de um certo tipo de censura. Não sou ditadora nem contra a liberdade de expressão, mas devíamos nos questionar antes de se compartilhar certas coisas e poderia haver uma espécie de filtro pra publicações no Youtube e em outras redes sociais.

Dia destes estava assistindo um vídeo de um professor e fiquei um pouco decepcionada com o que ele compartilhou. Infelizmente terei que mencionar o que foi falado para vocês entenderem bem o que quero dizer.

Este professor estava dissertando sobre o consumo de água no Brasil e economia, coisa que sempre fui a favor pois sou contra desperdícios. Ele disse que "nós devemos sim economizar água em nossas atividades diárias mas que o maior desperdício ocorre por parte de grandes indústrias e setores rurais".

Por que devemos filtrar nossas palavras?
Embora esta afirmação seja verdade acredito que seja irresponsável compartilhar este tipo de informação publicamente pois muitos dos que não economizam água utilizam-se deste argumento para continuar desperdiçando.

Quando falamos ou escrevemos qualquer coisa nossas ideias ficam evidentes após o "mas". Seria a mesma coisa se eu dissesse, por exemplo: "_Não tenho nada contra os gays, mas acho que eles deviam se relacionar somente entre quatro paredes". Este tipo de afirmação demonstra que, por mais que você se esforce pra não demonstrar homofobia, você é homofóbico.

Devemos filtrar o que compartilhamos sempre!! Até dentro da política e da militância virtual têm ocorrido muita coisa desnecessária. Muitos postam seus pontos de vista somente para chocar, chamar atenção e quando nos perguntamos qual foi o propósito daquela postagem, não sabemos responder. Quando sabemos, concluímos que não é a melhor maneira para aquele propósito. Uma das razões pelas quais criei este blog não é só pra divulgar a militância, mas pra apresentá-la a quem não conhece.

Quando compartilhamos informações de forma irresponsável, estamos nos igualando a reacionários preconceituosos que acham que ofender um gay, transsexual, lésbica, negro, deficiente físico, etc, é apenas liberdade de expressão.

Ser contra a simples existência de alguém, existência esta que em nada afeta você ou seu meio, é preconceito e isto não deve ser compartilhado, incentivado e aplaudido de maneira alguma. Compartilhar informações irresponsáveis não é certo e toda vez que postamos algo ou comentamos devemos nos questionar: Isto ofende alguém? O que acrescenta na sociedade? É importante de alguma maneira? É mesmo necessário? Daí sim vale a pena opinar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Você sabe o que é Feminicidio e Cultura do Estupro?

Feminicídio é o ato de tirar a vida de uma mulher somente por ela ser mulher, somente por características associadas socialmente às mulheres. Nossa sociedade machista e patriarcal muitas vezes induziu comportamentos que nos levassem a enxergar a mulher como propriedade do homem, logo, o feminicidio é a violência contra a mulher nas condições de submissão, em situações que dela era esperado um comportamento dito como "feminino".

Na nossa legislação não existe um crime definido como "feminicídio" mas nos crimes de homicídios motivados por machismo, sentimento de posse, passionalismo de homens para com as mulheres, entende-se que é possível rolar um aumento de pena, por exemplo. Isso depende de cada juiz ao aplicar a pena.

Provas de que a Cultura do Estupro existe
Jovem argentina de apenas 16 anos, drogada, estuprada e torturada até a morte por 16 homens

Uma jovem de apenas 16 anos foi drogada e estuprada na Argentina neste último sábado, dia 15 de outubro. A crueldade como este crime bárbaro ocorreu é o que chamou atenção: 16 homens a estupraram e enfiaram em seu ânus uma estaca de madeira, percorrendo-lhe o corpo. Sim, em pleno século XXI uma jovem foi empalada. Não existem palavras pra descrever o que é o medo e a dor de uma mulher que sofreu isto :(

No nosso país existe uma Cultura do Estupro. Embora muitos digam que estupradores são altamente repudiados na nossa sociedade (o que de fato ocorre), muitos comportamentos que levam a um abuso são incentivados. A pornografia violenta, a infantilização de mulheres adultas e a "adultização" de jovens adolescentes, a exigência de uma aparência feminina cada vez mais infantil, a culpabilização da vítima nos casos de violência, tudo isto contribui diretamente para a cultura do estupro.

No Brasil (e no mundo, talvez) a Cultura do Estupro é basicamente o entendimento de que a mulher "pede" para ser estuprada. Isto é bem claro nos portais de notícias quando há alguma nota sobre um determinado caso e pessoas usam de comentários para apaziguar o comportamento violento do estuprador. O exemplo mais clássico é quando a estuprada é uma mulher em ambiente hostil, tarde da noite, embriagada ou usando roupas curtas. Sempre relativizam a conduta do homem que errou, sempre tentam culpar a mulher.

Entendam: Nenhuma mulher merece ser estuprada! Nenhuma mulher "pede" por isto. Ainda que ela tenha combinado uma "festinha particular" com 30 pessoas, a partir do momento que ela pede pra parar, todos devem ouvir.

Sabe o que nos deixa mais triste (em relação ao estupro ocorrido aqui o Brasil)? É que em solidariedade a jovem violentada várias de nós colocamos aquele filtro "Eu Quero o fim da cultura do estupro" e grupos reacionários, sarcasticamente, colocaram "Eu quero o fim do feminismo". Ou seja, ao invés de lutarem contra essa violência bárbara, acham mais importante acabar com um movimento social que só ajuda as pessoas. Pra mim, quem faz isto é igual ou pior que um estuprador.

As mulheres na Argentina estão se unindo fortemente numa greve geral e indo às ruas, vestidas de preto, em luto pelo ocorrido. Espero que aqui no Brasil não precise ocorrer o mesmo para que muitos e muitas parem de deturpar o feminismo, o único movimento realmente envolvido na bandeira anti-violência contra nós mulheres.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Você não é o que você tem

Estava conversando com uma amiga dia destes e embora ela tenha opiniões e ideologias muito diferente das minhas, ela se expressa bem e tem facilidade pra tocar em assuntos que nos rodeiam. 

Nós que nascemos na década de 1980 pra frente fomos educadas pra sermos lindas menininhas além do rostinho bonito (sabe a expressão: não sou só um rostinho bonito? então...).

Claro que nas camadas mais pobres da sociedade isto pode não ter ocorrido tanto, mas nos lares de classe média ou classe média baixa, foi comum sermos cobrada profissionalmente. Eu cresci ouvindo dos meus pais e até outros adultos de minha família coisas como: _Estude, trabalhe, não dependa de ninguém. Não acho que este conselho seja ruim, se eu tiver uma filha, provavelmente orientarei no mesmo sentido, contudo, crescemos dependente do capital. Crescemos incentivadas a consumir cada dia mais e com a publicidade e o marketing agindo com agressividade.

Quem de nós não chegou aos 30 e viu os amigos com filhos, casa própria, carro zero, etc e se sentiu um fracasso? Quando há reuniõeszinhas de amigos do colegial é um disputa de ego infindável. A gente fica limitada achando que por não obtermos sucesso profissional, somos a vergonha da nossa família. O que nos conforta é que isto tem sido muito comum com pessoas de nossa idade.

Neste momento ocorre uma crise mundial no mercado de trabalho. A revolução industrial, o avanço da tecnologia e da internet contribuiu demais para que caísse o número de vagas de emprego e os jovens inexperientes são os que mais sofrem com isso. Em certos países, como aqui por exemplo, os mais velhos também sofrem com o preconceito em relação a idade e aparência.

Daí sempre quem paga o pato somos nós, que somos cobradas pelo modelo perfeito de funcionária, mas nos falta vaga, incentivo, espaço. As que são mães são as que mais sofrem: exige-se que trabalhe como uma mulher sem filhos e que seja mãe como se não trabalhasse. Falta espaço para suas crianças nas universidades e nos ambientes de trabalho. Falta espaço para suas demandas na vida!

Não devemos nos culpar 100% pela falta de oportunidades boas de emprego. Claro que devemos investir em educação e profisisonalização, mas não somos o que trabalhamos. A gente sempre é importante pra alguém a nossa volta só que o dia a dia não nos deixa perceber.

Muitas pessoas buscam esse valor e esse conforto na religião. Esta minha amiga inclusive culpa o feminismo, e isto não deixa de ser um ponto de vista. Sob o meu, o capitalismo e a vaidade humana são os responsáveis. Independentemente do que realmente seja, sempre lembre do seu valor para seus pais, amigos, filhos. Você é mais do que acredita ;)

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Trabalho no Mundo Contemporâneo - parte 2

Esta postagem é uma continuação da primeira (veja aqui) onde eu resumi alguns pontos importantes sobre as relações de trabalho ao longo do tempo. Naquele dia não pude continuar, mas hoje vim concluir alguns pontos de destaque.

Nós conseguimos perceber que a alternância de poder e de modelos econômicos é muito importante pois como falei na postagem anterior, todos têm falhas e tendem a saturar-se.


O Neoliberalismo

Foi instaurada a ideia de bem estar social, onde o empregado obteve mais direitos e conforto. Contudo, isto gerou uma certa comodidade e lentidão no progresso, de acordo com alguns governantes da época. Entrou aí em cena o Neoliberalismo.

Margareth Thactcher no Reino Unido e Rolnald Reagan nos EUA assumiram o poder na década de 1980 e foram nomes importantes nesse sistema econômico. Ambos defendiam a liberdade das relações econômicas e a ausência do Estado nas relações trabalhistas. Entendiam que assim incentivariam os trabalhadores mais esforçados e fariam a máquina econômica crescer.

Suas propostas eram basicamente: menos aposentadoria pública (de preferência, sua privatização), menos auxílios trabalhistas no geral, bem como a privatização de empresas e serviços.

A queda da União Soviética contribui para que o neoliberalismo ganhasse popularidade na época. Ideais competitivos assim se popularizavam. Mas este modelo não pôde continuar pra sempre e até hoje vemos reflexos positivos, mas também negativos.

Algumas críticas ao liberalismo econômico e ao neoliberalismo são baseadas na crueldade e desumanidade que pode ocorrer ao não levar em conta o bem estar dos menos favorecidos. Embora deva-se valorizar o esforço do trabalhador empenhado, garantir conforto aos outros trabalhadores também é de suma importância para que não haja crescimento da violência, roubos, desigualdade social, etc.

Nem todos os trabalhadores rendem da mesma maneira, mas dos que não rendem, nem sempre é por falta de empenho. As condições de oportunidades pra cada pessoa deve ser levada em conta ao comparar-se ritmo de trabalho. Esta é uma das maiores críticas ao liberalismo econômico.


O Empreendedorismo

Atualmente a taxa de desemprego é grande na Europa e os mais jovens são os que sentem com mais força. Existe uma categoria conhecida como "inempregáveis" que são pessoas com pouca ou nenhuma qualificação profissional que não tem como investir num curso de profissionalização e/ou graduação. Isto também ocorre no Brasil e está cada dia mais comum, infelizmente. Diante da modernização das máquinas e robótica, a tendência é só piorar. Certos ramos já pararam de crescer, como o sistema bancário, por exemplo, dificultando a criação de novas vagas de emprego.

Deste modo despertou-se a ideia de criar uma alternativa de renda própria. O empreendedorismo é o conjunto de iniciativas nesse sentido. O SEBRAE - Serviço Brasileiro de apoio à pequena e microempresa - é uma instituição focada a ensinar e amparar esses pequenos empresários. Outro modo bastante popular de iniciativas de trabalho é a união por meio de cooperativas.

As cooperativas ocorrem por união de força de trabalho (conhecida vulgarmente como "coopergato") ou por união de "conhecimento", trabalho, entre pessoas com o mesmo nível intelectual, exercendo atividades similares. Este modelo mencionado é mais próximo das antigas tradições europeias do séc. XIX.

As pessoas da era contemporânea estão passando pelo desafio da criação de novas oportunidades de trabalho e em certos casos até voltando aos modelos mais antigos, onde a produção integral de certos bens era concentrado na mão de uma única pessoa. Assim é o mercado de trabalho, sempre modificando-se, com seus altos e baixos.


Espero que tenham gostado do texto e que estes resumos ajudem as pessoas que cursam esta disciplina na faculdade, bem como aos interessados em saber mais sobre relações de trabalho ao longo do tempo.

Referências bibliográficas:
1. DELGADO, Maurício Goldinho. Capitalismo, trabalho e emprego. São Paulo: LTR, 2005.
2. MARRAS, Jean Pierre. Relações trabalhistas no Brasil. São Paulo: Futura.
3. PINTO, Bernadete E. de Rosa. A flexibilização das relações de trabalho. São Paulo: LTR, 2005.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Historiografia Brasileira - resumo

Este período na faculdade estou estudando a disciplina "Historiografia Brasileira", que é o estudo de como a história foi montada ao longo do tempo, conhecendo seus métodos e historiadores.

Nem sempre a História foi contada e entendida como conhecemos nos dias atuais. Na época do Brasil Colônia não existia um estudo específico da disciplina e tudo que tornou-se história foi construído, muitas vezes, para outros fins. Exemplo disto são os relatos de viajantes, cronistas, etc. O primeiro documento considerado oficial neste sentido foi a carta de Pero Vaz de Caminha à Portugal, onde relatava os costumes das comunidades indígenas brasileiras, mas claro, sob um olhar europocêntrico.

Gregório de Matos Guerra inaugurou no séc XVIII uma forma de pensar diferente na época pois foi cronista de política na Bahia. Avaliou a sociedade brasileira sobre a óptica da escravidão e criticava sua estupidez. Também lançou críticas aos homens portugueses que buscavam usar das mulheres negras somente para sexo e satisfação pessoal;

A Historiografia brasileira só se consolidou como algo oficial com a criação do IHGB, mas antes mesmo disto tivemos contribuições de grande valia. Abaixo, alguns nomes e períodos importantes neste contexto historiográfico:

*André João Antonil: Italiano da Toscana, formou-se em Direito Civil e chegou ao Brasil com 32 anos de idade objetivando avaliar detalhadamente os homens que aqui viviam e as riquezas que o Brasil poderia oferecer a Portugal. Seu foco era o estudo das relações de senhores e escravos, principais atores de nossa economia. Teve parte de sua obra, Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, destruída pela corte portuguesa pois queriam evitar o "olho grande" de outras nações europeias, já que eram expostos meios de trabalho e riquezas como ouro, tabaco, açúcar, etc. Sua obra foi reeditada somente no séc. XIX com detalhes sobre a produção destas iguarias. O autor conclui em sua obra a utilidade do Brasil para Portugal e demonstrou um caráter sensível ao descrever detalhadamente a produção no engenho e relatar características do empreendedorismo da época; também menciona a situação dos escravizados da época, mas sem tanta empatia, já que destaca a importância econômica de se manter o trabalho escravo;

*Luís dos Santos Vilhena: Foi um português que viveu em Salvador entre 1787 a 1814. Analisou a sociedade brasileira identificando a ordem social e a política estabelecida. Também analisava os impulsos por transformações sociais. Classificava Salvador como uma metrópole e constatou sua superpopulação;

*IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: Em outubro de 1838 é criado o IHGB graças a iniciativa de Januário da Cunha Barbosa e o brigadeiro Raimundo de Cunha Matos. A intelectualidade e profissionalização toma espaço e se firma com a necessidade de fontes, graças a influencia Alemã. É lançada Revista periódica publicando textos do período colonial, documentos do governo português (de quem recebe incentivos), mantendo um caráter conservador. Apesar de tudo, o IHGB não foi a primeira instituição voltada à dedicar-se a História. Em 1724 foi criada na Bahia Academia Brasílica dos Esquecidos e um de seus principais acadêmicos era Sebastião de Rocha Pita. Dividia o estudo da história em quatro partes: política, eclesiástica, militar e natural. Uma das coisas que influenciaram a criação do IHGB é a interferência européia que negava ao negro e o índio o protagonismo na História. Neste contexto estavam ocorrendo diversas revoltas, descentralizações, e no período regencial, estava a 10 anos sem um imperador de fato.

*John Armitage: Jovem inglês de 21 anos, frequentava círculos intelectuais e políticos ao lado de Bernardo Pereira de Vasconcelos, Diogo Antônio Feijó, José Custódio Dias, Rodrigues Torres, Teófilo Otoni, etc. Publicou "História do Brasil" em Londres e teve sua tradução feita por Evaristo da Veiga (de quem era amigo) supostamente. Não é certo quem traduziu, sendo atribuída tal façanha a Joaquim Teixeira de Macedo.

*Karl Von Martius: Em 1840 é proposto um concurso para quem apresentar melhor maneira de se escrever a história do Brasil e o alemão Karl Von Martius apresenta-se, ganhando. Natural da Baviera, era botânico em missão científica no Brasil a convite da princesa Leopoldina. Escreveu a obra Flora Brasiliensis, onde elenca milhares de espécies. Juntamente com seu parceiro de trabalho J. Von Spix, escreveram o que viram por aqui em notável livro publicado na Alemanha, "Viagem pelo Brasil", dividido em três volumes. Martius propôs na monografia vencedora do prêmio disposto pelo IHGB que a História do Brasil deveria não ater-se somente a questão política, mas também a vivência e dia a dia de seu povo. Chamava os índios de "raça cor de cobre". Enxergava a miscigenação como algo positivo à época.

*Francisco Adolfo de Varnhagen: Foi um historiador que não se focou na periodização linear da história, mas sim nas fontes documentais oficiais. Foi um grande compilador de documentos e realizou bem ao espírito do IHGB que tinha por meta a valorização da monarquia e da colonização portuguesa. Varnhagen entendia o Brasil como comandando por uma elite nacional branca, católica, que será a fiadora dos conceitos de "progresso", civilização e evolução;

*Capistrano de Abreu: Ficou conhecido como o Heródoto Brasileiro e seu cientificismo o fez reinterpretar a história brasileira dando destaque não mais ao Estado Imperial mas sim ao povo e sua formação étnica. Valorizou o conceito de "cultura" no lugar de "raça" (etnia) e por isso é considerado um precursor no trabalho de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Capistrano de Abreu recuperou as ideias de Pe. Antonil e dos que se rebelaram durante o período colonial. No século XVII acabou a formação de um projeto de nação independente e para Capistrano mudou-se o sujeito da História do Brasil para o conquistador do sertão. Considerava que no interior há o predomínio do chamado "Mameluco", no litoral, dos negros africanos, no sul, dos brancos. Ele questionou a tradição fazendo uma crítica radical à memória brasileira. Capistrano almejou uma "unidade" brasileira.

Continua...

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Identidade de Gênero e Transsexualidade

A ideia de Identidade de Gênero é uma boa razão para entendermos a necessidade de respeito a população transsexual no Brasil e no mundo. Todos tem algo no corpo que gostariam de mudar e isto não é negar sua natureza. Uma pessoa com dificuldade visual não está deixando de ser quem é ao usar óculos, logo, uma pessoa transsexual não está errada ao fazer pequenas modificações em seu corpo a fim de adequá-lo a como ela se sente de verdade de acordo com os padrões ocidentais.

Esta discussão tomou maior proporção ao cair numa questão de prova do ENEM, e isto não é doutrinação, foi apenas avaliado se os alunos estão por dentro das diferentes definições de gênero, mas infelizmente o fundamentalismo religioso impede alguns de entender isto.

Se pra você ser homem ou mulher está relacionado somente ao órgão sexual entre as pernas de cada um, problema é seu, não queira fazer todos entenderem da mesma maneira já que gênero é uma construção psico-social.

Só trouxe ao blog esta questão pois muitos estão acusando o atual candidato a prefeitura do Rio, Marcelo Freixo, de impôr "ideologia de gênero" na educação escolar. Sendo que isto nem é de competência das prefeituras das cidades. Também gostaria que outras pessoas conhecessem sobre este assunto tão atual e tão mal explicado, muitas vezes até dentro dos defensores da Teoria Queer, por exemplo.

E somente a título de curiosidade:
  • Travesti: mulher que possui órgão sexual masculino
  • Transsexual: Mulher que já realizou a cirurgia de redesignação sexual e/ ou pretende fazê-la.
Atenciosamente, Thainá.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Trabalho no Mundo Contemporâneo

A postagem de hoje é relativa a uma matéria que estou estudando na faculdade, Trabalho no Mundo Contemporâneo, e gostaria de deixar registrada para quem tiver interesse em entender como o trabalho se desenvolveu durante a história da humanidade e chegou até os dias de hoje. Vamos entender os caminhos que o trabalho nos levou.

É impossível viver sem trabalho e/ou sem seus frutos. O papel do trabalho na história da humanidade é paralelo à própria. Quando historiadores registram fatos do passado e do presente, devem seguir uma linha principal (escrever sobre a política, cultura, economia, etc) e uma das mais comuns é guiada pela Economia. Pensadores do passado entendiam que por mais que haja fome de espírito, ou seja, necessidade de compreender o mundo, há a fome no estômago, o que fez o homem correr atrás de meios de trabalho desde sempre. Com isto desenvolveu-se a ideia de que a existência precede a consciência.

Outro importante conceito inicial é entender que o trabalho desenvolveu-se como algo coletivo, social.

Veja abaixo o vídeo que fiz falando sobre esse assunto:



Das Corporações de Ofício aos assalariados

Inicialmente o trabalhador participava de todo processo de criação de qualquer coisa que necessitasse. Plantava, regava, colhia, preparava e se alimentava. Em alguns casos, trocava o excedente por outras coisas com seus vizinhos. Já nas vilas da idade média, chegou-se ao ponto dos trabalhadores poderem se dedicar a uma única atividade, surgindo profissões como carpinteiros, ferreiros, alfaiates, etc. Uma curiosidade sobre isto é como tais profissões influenciaram até nos sobrenomes das pessoas. No inglês, por exemplo, temos o sobrenome Taylor, Carpenter, Baker (alfaiate, carpinteiro, padeiro, etc). Aqui no Brasil mesmo temos o sobrenome Ferreira que é bem comum.

Nesse sentido, surgiu a figura do mestre de ofício, que era uma pessoa especialista em algo dedicada a ensinar jovens aprendizes. Estes comumente moravam juntos, dividiam o mesmo teto, comida, e tais jovens trabalhavam de graça, em troca dos ensinamentos.

Quando os jovens aprendiam um ofício e não conseguiam abrir suas próprias lojas, era comum continuar com seu mestre, mas desta vez trabalhando de verdade, ou seja, recebendo uma remuneração. Assim surgiu a figura do jornaleiro (diarista). A origem da palavra é de "jornada", significando que estes recebiam por dia.

Sendo assim, começa-se as primeiras uniões entre patrões e empregados, o que no futuro seria uma fábrica como conhecemos nos dias de hoje.


Do Trabalho Doméstico ao Trabalho Fabril

Nos rigorosos invernos Europeus era comum a família manter-se dentro de casa enfurnada, já que a neve impedia o plantio e a colheita. Deste modo, uma atividade bem comum era o artesanato (manufatura), principalmente a costura (fiação e tecelagem). Tosquiava-se a lã dos animais e produzia-se casacos, colchas, etc. Em princípio, algo voltado somente pra uso da família, mas isto foi mudando aos poucos.

Surgiu nos grandes centros a figura dos comerciantes burgueses. Estes compravam a produção destas famílias e revendia. Ao passo que os pedidos aumentavam, tais comerciantes exigiam maior produção. Com isto, muitas famílias largaram o trabalho agrícola no verão, dedicando-se exclusivamente a tecelagem. Outra coisa importante nesse cenário é que o comerciante burguês passou a trazer lãs prontas, máquinas, etc, pra acelerar a produção de seus fornecedores.

Ao passo que estas coisas iam acontecendo, os produtores iam se distanciando mais ainda do processo de produção de seus produtos. Se numa família o patriarca sabia de todos os passos para chegar-se ao produto final, seu tataraneto já não tinha mais este conhecimento. Quanto mais a pessoa se limitava dentro da produção, exercendo uma única função, menos ela teria conhecimento do processo de fabricação. Diretamente isto trouxe mais poder aos comerciantes já que seus produtores perderam completamente o controle sobre a matéria prima, mas principalmente, também perderam controle sobre os compradores diretos.

Já no séc. XVIII comerciantes burgueses começaram a notar que não era mais possível disponibilizar matéria prima e levar à casa dos produtores. Daí surgiram as primeiras fábricas, pois era mais prático agrupar tudo num galpão e trazer seus funcionários para lá.


Livre Concorrência e Monopolização

Quando começou surgir mais e mais fábricas durante o tempo, havia-se a esperança de melhores produtos e menores preços ao bolso do consumidor, pois assim, teoricamente, funcionaria o capitalismo. Patrões exploravam seus empregados cada vez mais visando um aumento de produção (e consequentemente de vendas) para assim monopolizar um determinado seguimento. Para que isto de fato ocorresse, era necessário o enfraquecimento de outras empresas concorrentes.

Algo que ocorre muito frequentemente nestes cenários é uma empresa crescer ao ponto de comprar as outras menores, fixar-se um baixo número de marcas a ponto de combinarem entre si um congelamento de preços, por exemplo, mesmo diante de situações em que não é necessário. Daí surgiu a figura do Cartel, que é proibido mas acontece e muito.

Além do Cartel, é comum ocorrer o Trust, que é quando uma empresa se empodera de tal forma que consegue controlar todo processo de produção. Ex: A Sadia atualmente não somente vende frangos, ela os cria, limpa, tudo, em fábricas menores mas de sua posse.


Taylorismo e Fordismo

Frederick Winslow Taylor foi um engenheiro que criou um sistema de organização de trabalho que revolucionou seu tempo, otimizando a produção das fábricas.  Ele entendia que os pilares para um bom desenvolvimento fabril eram:  o princípio da necessidade de planejamento; o princípio das vantagens de boa formação para os trabalhadores; o princípio do controle e o princípio da execução.

Mais revolucionário que Frederick Taylor foi Henry Ford, um dos pioneiros da industria auto-mobilística. Ford criou o modelo "esteira" na linha de produção, permitindo que cada trabalhador se especializasse numa única tarefa.

Diante disto houve um grande aumento na linha de produção e em meados de 1920 dominou a industria. Nas décadas de 50 e 60 chegou ao seu auge, produzindo milhões de exemplares e assim ficou conhecida como "anos dourados" do capitalismo.

Mas nem tudo que é bom dura pra sempre. Na década de 70 começou-se a perceber os primeiros sinais negativos deste tipo de produção em série. Empregados mal pagos, com lesões por esforço repetitivo, dores nas costas e estresse causado pela pressão dos patrões diminuíram sua produtividade dando espaço para a japonesa Toyota que trabalhava mais de acordo com o ritmo de encomendas.

O modelo fordista acontece até hoje, porém, notamos com maior clareza seus problemas e suas consequências.


O Estado do bem estar Social

A problemática capitalista principal é o entendimento de que, embora a produção de alimentos (não só comida) cresça sempre, ainda há pessoas passando fome. Em tempos que houveram pragas, seca, desmatamento irresponsável, era compreensível a ausência de bens à população. Mas quando o motivo não eram mais estes...

Na década de 20 a produção norte americana crescia vertiginosamente mas num determinado momento perdeu consumidores. A Europa devastada pela guerra perdeu seu poder de compra e em 1929 os EUA chegaram a crise que causou a quebra na bolsa de Nova Iorque. As empresas produziram em excesso e não tinham pra quem vender. Era comum a destruição de alimentos enquanto vários passavam fome. Deste modo, perdeu-se totalmente a confiança no liberalismo econômico, que era a permissão do Estado para que empresários fizessem o que queriam, sem controle algum.

O governo americano entendeu que não podia mais ficar inerte diante da situação de crise e através de uma ideologia Keynesiana decidiu intervir. Em linhas gerais o Estado do Bem Estar Social significou forte proteção social em matéria de saúde e educação públicas e aposentadoria, além de conquistas diretamente trabalhistas como férias e legislação avançada de salário-desemprego. Essa era uma maneira de driblar a crise capitalista em que se encontravam.



Bem, este é um resumo da matéria e quis dividir com vocês mais na intenção de exercitar meu pouco conhecimento... hehe. Ainda faltam alguns tópicos que prefiro deixar pra outra postagem. Atenciosamente, Thainá.

ATUALIZAÇÃO: Veja aqui a segunda parte desta postagem :)