segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Historiografia Brasileira - resumo

Este período na faculdade estou estudando a disciplina "Historiografia Brasileira", que é o estudo de como a história foi montada ao longo do tempo, conhecendo seus métodos e historiadores.

Nem sempre a História foi contada e entendida como conhecemos nos dias atuais. Na época do Brasil Colônia não existia um estudo específico da disciplina e tudo que tornou-se história foi construído, muitas vezes, para outros fins. Exemplo disto são os relatos de viajantes, cronistas, etc. O primeiro documento considerado oficial neste sentido foi a carta de Pero Vaz de Caminha à Portugal, onde relatava os costumes das comunidades indígenas brasileiras, mas claro, sob um olhar europocêntrico.

Gregório de Matos Guerra inaugurou no séc XVIII uma forma de pensar diferente na época pois foi cronista de política na Bahia. Avaliou a sociedade brasileira sobre a óptica da escravidão e criticava sua estupidez. Também lançou críticas aos homens portugueses que buscavam usar das mulheres negras somente para sexo e satisfação pessoal;

A Historiografia brasileira só se consolidou como algo oficial com a criação do IHGB, mas antes mesmo disto tivemos contribuições de grande valia. Abaixo, alguns nomes e períodos importantes neste contexto historiográfico:

*André João Antonil: Italiano da Toscana, formou-se em Direito Civil e chegou ao Brasil com 32 anos de idade objetivando avaliar detalhadamente os homens que aqui viviam e as riquezas que o Brasil poderia oferecer a Portugal. Seu foco era o estudo das relações de senhores e escravos, principais atores de nossa economia. Teve parte de sua obra, Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, destruída pela corte portuguesa pois queriam evitar o "olho grande" de outras nações europeias, já que eram expostos meios de trabalho e riquezas como ouro, tabaco, açúcar, etc. Sua obra foi reeditada somente no séc. XIX com detalhes sobre a produção destas iguarias. O autor conclui em sua obra a utilidade do Brasil para Portugal e demonstrou um caráter sensível ao descrever detalhadamente a produção no engenho e relatar características do empreendedorismo da época; também menciona a situação dos escravizados da época, mas sem tanta empatia, já que destaca a importância econômica de se manter o trabalho escravo;

*Luís dos Santos Vilhena: Foi um português que viveu em Salvador entre 1787 a 1814. Analisou a sociedade brasileira identificando a ordem social e a política estabelecida. Também analisava os impulsos por transformações sociais. Classificava Salvador como uma metrópole e constatou sua superpopulação;

*IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: Em outubro de 1838 é criado o IHGB graças a iniciativa de Januário da Cunha Barbosa e o brigadeiro Raimundo de Cunha Matos. A intelectualidade e profissionalização toma espaço e se firma com a necessidade de fontes, graças a influencia Alemã. É lançada Revista periódica publicando textos do período colonial, documentos do governo português (de quem recebe incentivos), mantendo um caráter conservador. Apesar de tudo, o IHGB não foi a primeira instituição voltada à dedicar-se a História. Em 1724 foi criada na Bahia Academia Brasílica dos Esquecidos e um de seus principais acadêmicos era Sebastião de Rocha Pita. Dividia o estudo da história em quatro partes: política, eclesiástica, militar e natural. Uma das coisas que influenciaram a criação do IHGB é a interferência européia que negava ao negro e o índio o protagonismo na História. Neste contexto estavam ocorrendo diversas revoltas, descentralizações, e no período regencial, estava a 10 anos sem um imperador de fato.

*John Armitage: Jovem inglês de 21 anos, frequentava círculos intelectuais e políticos ao lado de Bernardo Pereira de Vasconcelos, Diogo Antônio Feijó, José Custódio Dias, Rodrigues Torres, Teófilo Otoni, etc. Publicou "História do Brasil" em Londres e teve sua tradução feita por Evaristo da Veiga (de quem era amigo) supostamente. Não é certo quem traduziu, sendo atribuída tal façanha a Joaquim Teixeira de Macedo.

*Karl Von Martius: Em 1840 é proposto um concurso para quem apresentar melhor maneira de se escrever a história do Brasil e o alemão Karl Von Martius apresenta-se, ganhando. Natural da Baviera, era botânico em missão científica no Brasil a convite da princesa Leopoldina. Escreveu a obra Flora Brasiliensis, onde elenca milhares de espécies. Juntamente com seu parceiro de trabalho J. Von Spix, escreveram o que viram por aqui em notável livro publicado na Alemanha, "Viagem pelo Brasil", dividido em três volumes. Martius propôs na monografia vencedora do prêmio disposto pelo IHGB que a História do Brasil deveria não ater-se somente a questão política, mas também a vivência e dia a dia de seu povo. Chamava os índios de "raça cor de cobre". Enxergava a miscigenação como algo positivo à época.

*Francisco Adolfo de Varnhagen: Foi um historiador que não se focou na periodização linear da história, mas sim nas fontes documentais oficiais. Foi um grande compilador de documentos e realizou bem ao espírito do IHGB que tinha por meta a valorização da monarquia e da colonização portuguesa. Varnhagen entendia o Brasil como comandando por uma elite nacional branca, católica, que será a fiadora dos conceitos de "progresso", civilização e evolução;

*Capistrano de Abreu: Ficou conhecido como o Heródoto Brasileiro e seu cientificismo o fez reinterpretar a história brasileira dando destaque não mais ao Estado Imperial mas sim ao povo e sua formação étnica. Valorizou o conceito de "cultura" no lugar de "raça" (etnia) e por isso é considerado um precursor no trabalho de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Capistrano de Abreu recuperou as ideias de Pe. Antonil e dos que se rebelaram durante o período colonial. No século XVII acabou a formação de um projeto de nação independente e para Capistrano mudou-se o sujeito da História do Brasil para o conquistador do sertão. Considerava que no interior há o predomínio do chamado "Mameluco", no litoral, dos negros africanos, no sul, dos brancos. Ele questionou a tradição fazendo uma crítica radical à memória brasileira. Capistrano almejou uma "unidade" brasileira.

Continua...

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