Com a ascensão do feminismo e das pautas identitárias, cresceu nas mídias sociais (principalmente no
Instagram) um movimento sobre aceitação corporal, ou aceitação da própria aparência, o chamado
Bodypositive.
Em tradução literal significa "Corpo positivo", que em tradução livre significa olhar para o próprio corpo de maneira positiva. Isto porque já estamos cansados de saber como a sociedade, a mídia, as estruturas sociais dominantes reforçam estereótipos de imagem para nos oprimir.
Esse movimento vem para bater de frente com essa cultura de opressão, especialmente sobre o corpo feminino, que é "polido" desde os primórdios para nos fazer nos sentirmos mal com nossa aparência. É claro que a Gordofobia é um dos assuntos principais desse meio, porém, existem mais opressões estéticas além dela.
Quem mora no Brasil, especialmente as mulheres, sempre ouvem "conselhos" (ou intromissões, para ser mais exata) sobre seu corpo ou sua aparência. Nos países considerados primeiro mundo isso é menor, pois parece ter sido uma questão já superada mas na verdade só parece, infelizmente ainda há "padrões de beleza" reforçados de diversas maneiras, em todos os lugares.
Vejam abaixo alguns exemplos comuns de pressão estética no Brasil:
- Reclamações vinda de terceiros sobre seu peso (seja muito magra ou muito gorda)
- Piadinhas sobre pêlos corporais, uma coisa comum que praticamente todo mundo tem
- Piadinhas sobre cabelos femininos, especialmente os crespos, estilo afro
- Piadinhas sobre tom de pele, seja por você ser branquinha (que "devia estar bronzeada"), seja por você ser negra (racismo que fala né?)
Enfim... nós seres humanos passamos por muitos momentos desagradáveis por conta dessa pressão estética, mas cabe enfatizar que existem grupos mais vulneráveis, como as mulheres, os gordos, os negros, etc.
Eu, como mulher sei: já deixei de fazer muita coisa por causa da aparência, e me considero uma mulher bonita (imagina se eu me achasse feia)...
Daí que criam um movimento para que estas pessoas, sempre discriminadas, se sintam melhor consigo mesmas, se sintam bonitas, motivadas, olhem para si mesmas com amor, auto cuidado... e me pergunto: como pode isto ser negativo? Mas sim, algo que parece ser extremamente positivo vem sendo alvo de críticas, especialmente por pessoas que se beneficiam pela imposição desses padrões de beleza.
O mais comum tem sido atacar mulher gordas que demonstram publicamente amor próprio. A desculpa?
Apologia à obesidade. A ativista
Alexandra Gurgel e a dançarina
Thaís Carla são exemplos de militantes
Body positive que sofrem essa situação.
Quase todas as fotos e vídeos que estas mulheres postam são alvos de críticas maldosas, comentários depreciativos, especialmente nas fotos onde elas exibem o corpo e demostram descontração/ felicidade. O motivo? Alegam que ambas fazem apologia à obesidade.
Mas posso dizer: sigo as duas a muito tempo e posso afirmar com certeza que NUNCA as vi induzirem ninguém ao sedentarismo nem a exageros alimentares. Na verdade, as vejo promover mensagens de amor próprio, auto cuidado (com a pele, cabelos, corpo) e respeito às pessoas, independentemente da aparência; isso é muito diferente de "promover a obesidade".
Algumas militantes #Bopo (abreviação de body positive) vão além: suas pautas promovem políticas públicas em atenção às pessoas gordas, como reivindicação de locais mais apropriados a todos os corpos, cadeiras mais espaçosas, roletas de ônibus mais acessíveis. Se isso já é uma realidade para pessoas com deficiência, por que não estender esses direitos às pessoas obesas?
Não vejo nada de errado nisso!
Em decorrência disto, outro dia o vlogueiro
Izzy Nobre levantou a questão sobre o Movimento Bodypositive, pois ele acredita que as adeptas a esse estilo de vida só querem ser consideradas bonitas. Izzy menciona isso como forma de deslegitimar a pauta e ofender a Alexandra, que parece ser um desafeto antigo, ou um caso mal resolvido (dele em relação a ela).
Vou te falar uma coisa meu caro Izzy: Quem disse que não nos acham bonitas?
Qualquer foto mais sensual que postamos, SEMPRE, eu disse SEMPRE haverão elogios. E já vi diversas mulheres totalmente fora dos padrões ocidentais de beleza que, ao se mostrarem um pouco mais, arrastam uma legião de fãs, ou até tarados, por assim dizer (não que isso seja grande coisa). Mas enfim... nos acham bonitas, nos acham gostosas e querem fazer sexo com a gente. Chocante, não?
Outra coisa curiosa é que o Izzy, esse mesmo que fala mal das gordas, do movimento corpo livre e da Alexandra, já foi gordo! É gente, não estamos livres de opressão nem quando vem dos nosso iguais. A gordofobia é algo tão presente na nossa sociedade que até gordos a praticam, é muito difícil a desconstrução nesses casos pois são pessoas que desde cedo aprenderam a se odiar.
Deixo aqui minha humilde sugestão: ao invés de entrar nos perfis e fotos dessas mulheres que exibem amor próprio, recorram a postagens da industria alimentícia e do agronegócio: esses sim, são os verdadeiros promotores da obesidade. O capitalismo vende comida "ruim" para vender remédio depois. Não ataquem mulheres que se amam pois fazê-las se sentir mal com elas mesmas não ajuda em nada na promoção da saúde.
Enfim... Queria falar um pouco sobre o Movimento Corpo Livre, que eu muito admiro, e desconstruir um mito de que queremos ser consideradas bonitas e desejadas, pois nenhuma mulher, por mais dentro do padrão que seja, se sente bem em relação aos outros quando não tem por si amor próprio.